Significados do Judaísmo

A real história de judeus e diamantes

07/06/2023
A real história de judeus e diamantes | Jornal da Orla

Mesmo que você nunca tenha comprado um diamante avulso ou qualquer tipo de joia com diamantes, você provavelmente está ciente de que há um envolvimento generalizado de judeus no comércio internacional de diamantes, bem como no seu processamento (corte e polimento), fabricação e comercialização de joias com diamantes.

Ao longo dos séculos, os diamantes e o povo judeu tiveram uma rica história juntos; uma das primeiras menções na Torá acontece em Êxodo 28:18: “e a segunda fileira será uma esmeralda, uma safira e um diamante”. Desde então, a relação entre os diamantes e o povo judeu não apenas mostra a extensa história por trás da indústria em expansão que conhecemos hoje, mas também nos abre para a história profunda e fascinante dos judeus e da cultura judaica.

Na Europa durante a Idade Média, os judeus era as pessoas ideais para o comércio de diamantes. Como os judeus eram proibidos de comprar terras e de se envolver em qualquer prática agrícola, a situação os levou a profissões que não carregavam limitações tão rígidas. Restritos a empréstimos de dinheiro em muitas áreas, os judeus tornaram-se banqueiros de fato e corretores de penhores para os ricos, muitas vezes recebendo pedras preciosas e outros objetos preciosos como pagamento quando as dívidas venciam. Alguns judeus começaram a se concentrar no polimento e comércio de pedras preciosas.

Como eram considerados estrangeiros, sofriam perseguições que, muitas vezes, saqueavam seus bens. Manter diamantes era uma maneira eficaz de assegurar secretamente uma potencial riqueza.

Os judeus, portanto, começaram a negociar diamantes (tanto entre eles quanto mais tarde também com não-judeus) e colocá-los em joias. Algumas famílias judias se especializaram em artesanato relacionado a joias, tornando-se assim ourives especializados e lapidadores de diamantes.

Os diamantes polidos, como os conhecemos, só se tornaram possíveis em 1400, graças a uma invenção de um comerciante de diamantes judeu chamado Lodewyk van Berken. Nascido na cidade belga de Bruges, mudou-se para a cidade vizinha de Antuérpia.

Além disso, o equipamento de fabricação de joias é relativamente pequeno e portátil, tornando mais fácil para os judeus fazerem as malas e se mudar quando as autoridades locais reprimiam as comunidades judaicas locais.

Especificamente, na indústria e comércio de diamantes, era não apenas essencial, mas também complicado garantir que as pedras chegassem com segurança ao seu destino. Isso se devia principalmente ao roubo, a preocupação de que quem entregasse as pedras preciosas simplesmente fugisse com o pacote, ou ficasse com o pagamento.

O povo judeu tinha uma grande vantagem, com comunidades judaicas próximas e famílias bem estabelecidas nas principais áreas do mundo.
Essa comunidade de pessoas espalhadas por vários pontos da Europa ajudou a garantir que quaisquer diamantes movimentados por ela chegassem ao seu destino com segurança e o pagamento dos diamantes fosse feito.

Em 1895, o Jewish Chronicle, o jornal judeu mais lido na Grã-Bretanha, chamou a atenção para o “papel conspícuo desempenhado pelos judeus no desenvolvimento dos recursos da África do Sul”, referindo-se particularmente ao florescente comércio transatlântico de diamantes. “Não é possível”, afirma o editorial com certa altivez, “exagerar a participação no despertar da África que coube ao empreendimento, ao instinto comercial, ao arrojo e à ousadia dos judeus.” Garimpeiros haviam descoberto vastas jazidas minerais no continente africano no início da década de 1870. A África do Sul tornou-se o principal fornecedor de diamantes para o mundo; seus campos de diamantes são, até hoje, um dos locais de extração de diamantes.

Em cada estágio da rota dos diamantes através do Império e além – da Cidade do Cabo a Londres, de Amsterdã à cidade de Nova York -eram principalmente comercializados, fabricados, avaliados e vendidos por judeus.

Até a Segunda Guerra Mundial, a Holanda e a Bélgica, em particular, eram tolerantes com essa minoria duramente perseguida, e a indústria de diamantes foi florescendo em meio à multidão de cortadores e polidores de diamantes. Essas partes da Europa eram portos comerciais populares e tinham boas ligações com a África do Sul, onde havia abundância de diamantes Oppenheimer e De Beers. Infelizmente, devido à perda de comunidades na Shoá, o comércio de diamantes foi gravemente afetado.

Entretanto, das cinzas, os judeus belgas começaram a reconstruir suas comunidades destruídas. Hoje, aproximadamente 20.000 judeus chamam Antuérpia de lar, muitos destes chassídicos. Antuérpia foi chamada de o último shtetle remanescente (cidade de língua iídiche) na Europa.

Com o grande número de judeus europeus indo para Israel, veio o desenvolvimento da indústria de diamantes de Israel. A primeira bolsa de diamantes foi estabelecida e, na década de 1960, a Israel Diamond Exchange (IDE) tornou-se global ao se mudar para Ramat Gan.
Embora a economia de Israel ainda tenha crescido e se expandido, a indústria de comércio de diamantes ainda representa cerca de 16% do PIB de Israel.

A conhecida série fictícia da Netflix, “Rough Diamonds”, destaca muitos dos desafios reais que a comunidade judaica enfrenta hoje, incluindo o declínio da receita do comércio de diamantes. No entanto, essa fatia da vida judaica continua, com comerciantes de diamantes judeus importando pedras brutas e, em seguida, polindo os diamantes em oficinas locais antes de exportá-los, assim como fazem há gerações.

A relação entre o povo judeu e a indústria de diamantes tem um passado fascinante, abrindo-se para algumas das maiores lutas históricas que o povo judeu enfrentou ao longo da história. Os diamantes continuam a ser negociados em todo o mundo pela comunidade judaica, raramente aceitando pagamento adiantado, mas sim um aperto de mão e a troca de palavras ‘mazel e bruche’.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.