Significados do Judaísmo

A História do Judeu e os Diamantes

08/09/2022
A História do Judeu e os Diamantes | Jornal da Orla

Mesmo que nunca tenhamos comprado um diamante solto ou qualquer tipo de joia com diamante, provavelmente ainda conhecemos o amplo envolvimento de judeus no comércio internacional de diamantes, bem como no processamento de diamantes (corte e polimento), fabricação e marketing de joias com diamantes.

Durante séculos, proeminentes famílias judias chassídicas desempenharam papéis importantes na troca de diamantes de Antuérpia, um dos maiores centros destas pedras do mundo, movimentando mais de 16 bilhões de dólares em comércio anualmente.

A bolsa de diamantes de Tel-Aviv é responsável por quase 20% do PIB de Israel. Muitos dos principais institutos de diamantes, onde os diamantes brutos são processados e os diamantes prontos são avaliados e certificados, são de propriedade de judeus, alguns desses institutos estão localizados em Israel.

Obviamente, tal envolvimento profundo indica uma relação de longa data entre a cultura judaica e os diamantes. De fato, os diamantes são inerentes à própria religião judaica, a primeira referência conhecida da palavra “diamante” é encontrada na Torá (Êxodo capítulo XXVII “e a segunda linha será uma esmeralda, uma safira e um diamante”).

Parece que nos tempos antigos essas pedras mais preciosas serviam a dois propósitos, como adorno e como ferramentas utilizando sua dureza inigualável (os diamantes possuem o mais alto nível de dureza de qualquer material conhecido pelo homem). Curiosamente, milhares de anos depois, os diamantes ainda são colocados em joias ou usados em ferramentas para serrar, cortar, perfurar e polir.

A Torá nos conta que durante séculos os judeus foram escravos no Egito, esse período da história antiga terminou por volta de 2.000 AEC, com o famoso êxodo liderado por Moisés. Como escravos, é improvável que os judeus entrassem em contato com diamantes. Mesmo assim, uma vez conquistada a liberdade, a roupagem sacerdotal judaica (usada pelo sumo sacerdote) continha as pedras preciosas mais conhecidas, incluindo diamantes.

Israel está situado em uma encruzilhada entre a Europa, a Ásia e a África. À medida que o comércio entre o leste e o Oeste se desenvolveu, os israelitas, sem dúvida, entraram em contato crescente com diamantes transportados por mercadores do Extremo Oriente (principalmente da Índia) e mais tarde também da África Central, para a realeza da Europa.

Desde a Idade Média, o comércio de diamantes judaico floresceu. Os judeus eram proibidos de comprar terras ou se envolver na agricultura e, portanto, obrigados a se estabelecer em outros setores, como o bancário, o comércio e polimento e comércio de diamantes e pedras preciosas. Afinal, o polimento não requer muito espaço ou equipamento. Em caso de perigo, eles poderiam fazer as malas rapidamente e partir. Além disso, diamantes e pedras preciosas são pequenos itens de alto valor, fáceis de mover e esconder. Para uma minoria perseguida, era uma excelente maneira de manter a riqueza e movê-la velozmente quando necessário.

Especificamente, no setor de comércio de diamantes, não era apenas essencial, mas também complicado garantir que as pedras chegassem com segurança ao seu destino. Isso se devia principalmente ao roubo, causando o temor de que aqueles que entregassem as pedras preciosas simplesmente fugissem com o produto.

Foi aí o lugar onde o povo judeu teve uma grande vantagem, com comunidades judaicas próximas e famílias bem estabelecidas nas principais áreas da Europa. Essa comunidade de pessoas espalhadas por vários pontos da Europa ajudou a garantir que todos os diamantes transportados por ela chegassem ao seu destino com segurança e o pagamento dos diamantes fosse feito.

Assim, quando se trata de diamantes, os judeus tornaram-se os arquitetos centrais de uma nova cadeia global de mercadorias que conectava locais africanos de abastecimento, centros de fabricação europeus e consumidores ocidentais. Ter um tio comerciante em Londres disposto a investir, ou um primo administrando um banco familiar em Paris, facilitou empréstimos para empresários judeus, promovendo a incorporação de pedras preciosas nos canais mercantis existentes.

De fato, cada etapa da rota dos diamantes através do Império Britânico e além – da Cidade do Cabo a Londres, de Amsterdã a Nova York – eles eram majoritariamente comercializados, fabricados, avaliados e vendidos por judeus.

Exalando as práticas me costumes imperiais predominantes das elites europeias do final do século XIX, em 1895, o Jewish Chronicle, o jornal judaico mais lido na Grã-Bretanha, chamou a atenção para o “papel notável desempenhado pelos judeus no desenvolvimento dos recursos da África do Sul”, referindo-se particularmente ao florescente comércio transatlântico de diamantes. “Não é possível”, afirma o editorial com altivez, “exagerar a participação no despertar da África que foi tomada pelos empreendimentos, o instinto comercial, a ousadia dos judeus”.
O Chronicle concluiu que “o grande e próspero império [britânico] que está em formação na África do Sul terá sido em grande parte construído pelo esforço judaico”, uma história que merecia ser registrada para a posteridade e adicionada aos anais da história anglo-judaica.

Até a Segunda Guerra Mundial, a Holanda, e a Bélgica em particular, eram tolerantes com essa minoria perseguida com muita dureza, e a indústria de diamantes lá floresceu em meio à multidão de lapidadores e polidores judeus de diamantes. Essas partes da Europa eram portos comerciais populares e tinham boas ligações com a África do Sul, onde os diamantes Oppenheimer e De Beers eram abundantes.

No entanto, devido à perda de comunidades na Shoá, o comércio destas pedras preciosas foi severamente impactado.

Entretanto, já ao longo da década de 1930, com o grande número de judeus europeus indo para Israel, veio o desenvolvimento da indústria de diamantes na Terra Sagrada. A primeira Bolsa de Diamantes foi estabelecida e, na década de 1960, a Bolsa de Diamantes de Israel (IDE) tornou-se global.

Embora a economia de Israel tenha crescido e se expandido significantemente, a indústria de comércio de diamantes ainda responde por cerca de 16% do PIB de Israel.

A relação entre o povo judeu e a indústria de diamantes tem um passado fascinante, abrindo-se para algumas das principais lutas históricas que o povo judeu enfrentou ao longo da história.

Hoje, temos o principal setor de comercialização de diamantes americanos, chamado de Diamond’s District, dominado predominantemente por judeus ortodoxos.

Os diamantes continuam a ser comercializados em todo o mundo pela comunidade judaica, raramente aceitando pagamento adiantado, mas sim um aperto de mão e a troca de palavras ‘mazal u brachá’.

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