Significados do Judaísmo

Livrando-nos do Chametz Físico e Espiritual

25/04/2024
Livrando-nos do Chametz Físico e Espiritual | Jornal da Orla

Sabemos como a comida que ingerimos, às vezes, pode desencadear memórias. A tradição judaica também sabe disso, e uma dieta kasher para Pessach é uma lembrança anual do passado distante do povo judeu como escravos no Egito.

Durante Pessach comemos matzá, ou pão ázimo, e evitamos comer chametz (alimentos fermentados) para lembrar o nosso passado e celebrar a nossa liberdade. Muitos de nós também evitamos comer kitniyot (grãos como trigo, aveia, centeio, cevada e espelta).

Pouco antes de a nação de Israel deixar o Egito, Deus ordenou-lhes que sacrificassem o cordeiro pascal e depois o comessem com matzá sem fermento, e com ervas amargas. Deus então Lhes disse que deveriam repetir esta festa todos os anos no aniversário do Êxodo.

Embora a maior parte da matzá é feita de trigo e água, o processo usado para “cozinhar” a matzá, desde o momento em que o líquido é adicionado à farinha até o momento em que o pão ázimo é assado, não pode durar mais de 18 minutos.

Bedikat chametz é uma cerimônia de busca por alimentos fermentados, instituída para garantir que nem mesmo a menor partícula de chametz permaneça na casa durante Pessach. A injunção bíblica: “Ainda no primeiro dia eliminareis o fermento de vossa casa” (Êxodo 12:15), foi interpretada pelos rabinos como se referindo à véspera do Festival da Liberdade, ou seja, o dia 14 de Nissan.

Á luz de uma vela de cera, com uma colher de pau e um espanador feito de várias penas de galinha ou de ganso amarradas, o dono da casa vasculha todos os cantos em busca de migalhas perdidas. Cada sala para onde o chametz possa ter sido levado durante o ano deve ser revistada.

A cerimônia do bedikat chametz tem precedência até mesmo sobre o estudo da Torá naquela noite.

Após a conclusão do bedikat chametz o dono da casa recita estas palavras: “Que todo fermento que esteja em minha posse, que eu não observei, procurei ou tenha conhecimento, seja considerado nulo e propriedade comum, assim como o pó da terra”.

Muitos judeus têm o costume de vender qualquer chametz que não descartam para um não-judeu durante o feriado. É comum que um rabino da comunidade ajude na venda de Chametz a um não-judeu, fazendo com que as pessoas assinem um documento que lhes dá o direito de conduzir a venda de seu Chametz.

Também, na manhã anterior à Pessach, muitas sinagogas têm o que parecem ser pequenas fogueiras acesas em suas calçadas. Este é o ritual conhecido como biur’chametz, a queima de produtos fermentados.

O processo de procurar e, eventualmente, livrar-nos do chametz físico nos ajuda a encontrar uma maneira de limpar espiritualmente a alma.

No livreto Um Guia para Prontidão Espiritual publicado pela Sociedade de Publicação Judaica, lemos:

“Os rabinos sugerem que o fermento transcende o mundo físico. Este fermento, este chametz, também simboliza o inchaço do eu, uma personalidade inflada, um egocentrismo que ameaça eclipsar a personalidade essencial do indivíduo. Ironicamente, é isso que impede o indivíduo de se elevar espiritualmente e se aproximar da santidade. Assim, o que chametz efetivamente faz no mundo material é exatamente o que impede no reino do espírito. É por isso que tem que ser removido.”

Assim como removemos o fermento à luz da vela, devemos eliminar o yetzer-ra (mal que habita dentro de nós), sondando o coração pela luz da alma, que é a “vela de Deus”.

Somente com a luz Divina podemos ver o chametz que está enterrado em nossa alma. E só através dessa mesma luz conseguimos incinerá-lo. Além disso, quem sabe o que mais poderá ser revelado na luz? Poderemos até ver aqueles que amamos de uma forma um pouco diferente no brilho especial desta luz fenomenal!

Chag Sameach

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