Mundo

Uma semana de guerra

13/10/2023
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Paulo Schiff

Em maio de 2021, o jornal italiano Corriere della Sera publicou um artigo muito interessante assinado pelo jornalista Antonio Ferrari: “A memória curta do Ocidente. Quando Israel inventou o Hamas para criar obstáculos e desacreditar Yasser Arafat.”

Nesse artigo, disponível na internet, o jornalista reproduz uma história contada a ele pelo então presidente do Egito, Hosni Mubarak, durante uma entrevista. Ele escreve, inclusive, que tem a gravação dela.

Resumidamente: Mubarak conta que perguntou ao primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin se é verdade que Israel “inventou” o Hamas para corroer a liderança palestina de Arafat. E Rabin, na presença do rei da Jordânia, Hussein, confirma: “Foi um erro grave de Israel.”

Os israelenses teriam fortalecido uma aura de interesse e paixão em torno dos líderes extremistas do Hamas e permitido e facilitado a migração e o estabelecimento deles no Líbano para que articulassem a oposição a Arafat.

Num tempo em que qualquer fato ou história recebe interpretações e narrativas contraditórias e opostas da polarização direita/esquerda e em que a verdade e a informação falsa andam lado a lado, é lógico que essa história vai ser reforçada por um lado e questionada pelo outro.

Neste cenário, é importante lembrar que o jornal italiano tem uma tradição centrista que vem de 1876, quando foi fundado, e que o jornalista, de 77 anos, tem como principal credencial a credibilidade.

A história interessa? Ferrari escreve que uma vez perguntou a um embaixador israelense em Milão, na sede do jornal, se era verdade ou mentira e recebeu como respostas primeiro que histórias do passado não interessam a ninguém e depois o silêncio.

Daqui da América do Sul, é muito difícil para o cidadão comum, não-estudioso da questão, entender um conflito e uma rivalidade como essa, milenares. Não temos nada parecido por aqui.

O professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC, Gilberto Rodrigues, está entre os estudiosos. Para ele, nesse momento do conflito, há duas prioridades: 1) corredores humanitários e o resgate de pessoas em áreas sujeitas a ataques. 2) um acordo de cessar-fogo que deveria ser concomitante ao resgate das pessoas.

A situação do conflito Israelo-Palestino é muito complexa. Envolve o conflito direto entre as duas partes e vários outros atores regionais. A causa Palestina é, em grande medida, uma causa do mundo árabe e do mundo islâmico.

A paz é um processo que normalmente deve ser concluída com um acordo que seja razoável ou bom para todas as partes. Qualquer desfecho sem o processo de paz e sem o acordo não resultará em paz.

As conversas e negociações no Conselho de Segurança da ONU são importantes, mesmo que não resultem em declarações ou resolução.