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Los Amantes de Teruel

19/04/2025 Luiz Dias Guimarães
Los Amantes de Teruel | Jornal da Orla

Nunca esquecerei Teruel, a cidade medieval perdida na árida região espanhola de Aragón. Buscávamos um case de logística moderna em Zaragoza e encontramos uma lenda de amor no meio do caminho.

No alto da colina de pedra e terra seca persiste há 800 anos a trágica história de Isabel de Segura e Diego de Marsella. Diz a lenda que Isabel e Diego morreram de amor em 1212.

Até que ponto é tão verdadeira não se sabe. Uma lenda é uma história transmitida ao longo do tempo, que parte de um fato real ou não, mistura a realidade com o fantástico imaginário e tende a se modificar à medida que é repassada.

Por isso em Teruel há variadas versões. Mas não se duvida que o jovem casal tenha existido e morrido de recíproco amor. Seus restos mortais mumificados estão hoje em um mausoléu.

A lenda diz que Isabel, filha de pai rico, e Diego, sem tal sorte, se amavam profundamente mas, para ser aceito, Diego fez o pacto com Isabel de que sairia pro mundo por até cinco anos, para se prover.

Após esse tempo. acreditando que ele não voltaria e estaria morto, Isabel cedeu ao pai e se casou com proeminente rapaz. Mas quis o destino que Diego voltasse naquele dia e a encontrasse já casada.

Desnorteado, o jovem foi ao encontro de Isabel e lhe pediu: “bésame, que me muero” e ela respondeu: “no, por no faltar a mi marido”.

A história lembra Jacó e Labão, a quem servia. Lembra também em parte Romeu e

Julieta, eternizada por Shakespeare, que teria se passado em Verona do século XVI.

Coincidência ou cópia de lenda de Teruel. 

Fato é que os séculos geraram muitas histórias com pontos em comum.

Até por aqui. Lembro Lampião e Maria Bonita, moça de boa família que debandou com o cangaceiro.

Virtuosa essa Isabel por abdicar do amor negando um beijo.

No lendário o beijo está sempre presente e ganha significados distintos. Por um beijo morre-se. Por um beijo se renasce, como a Bela Adormecida. Sem o beijo, Diego caiu morto de amor.

Hoje mata-se por amor mas não se morre de amor. Como dificilmente  a amada rejeitaria o amado por simples honra. No funeral de Diego eis que surgiu Isabel e, enfim, lhe deu o suplicado beijo na face fria.

E também morreu de amor sobre o corpo do amado. Essa cena se repete todo mês de fevereiro em representação na mística Teruel. Uma celebração que lhe rende turismo.

Uma lenda que se respira em todos os cantos. No mausoléu dos mumificados, em La Cantina del Besos, no restaurante Los Amantes ou na 1900, uma taberna de 123 anos que explora o assunto com uma placa que aponta para um pequeno salão medieval chamado de Bodega del Amor. 

Não importa se tudo isso é real. Interessa o efeito que produz. Quando o amor é o ingrediente, sucesso total. Afinal, o amor, às vezes apenas uma lenda do imaginário, inspira e motiva. E por vezes produz heróicas tragédias nesta tênue e espetacular história da vida.