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Investir em infraestrutura e em transportes é abrir para espaço sucesso econômico-social

05/08/2022
Divulgação

O Brasil precisa urgentemente rever sua política de transporte de carga. Não dá mais para o país manter a vigente, absolutamente incapaz de promover o desenvolvimento nacional. Muito pelo contrário: o sistema inibe o pleno desenvolvimento e atrasa a agenda social.

É bem verdade que o Ministério da Infraestrutura tem se esforçado e alguma coisa avançou nos últimos anos, mas não é menos verdade que ainda falta muito e é preciso correr e em alta velocidade.

Correr em alta velocidade significa ir adiante e fazer muito mais. Investir pesadamente, investir de forma séria, investir inteligentemente e em parceria com a iniciativa privada.

Ouso afirmar que o Brasil não será uma potência global enquanto não mudar sua política de transporte de carga. Dos países protagonistas da economia e geopolítica internacionais, é o que apresenta a pior infraestrutura geral e um dos universos logísticos de transporte mais infelizes.

Todo o ano, o país perde bilhões de dólares por causa da sua atrofia acentuada nos setores.

Há anos observo como o Brasil, inexplicavelmente, dá preferência ao transporte rodoviário, em detrimento de duas outras opções muito mais inteligentes: o transporte marítimo (navegação de cabotagem) e o transporte ferroviário.

Nenhum país desenvolvido tem no setor rodoviário seu praticamente único modal de transporte de cargas e circulação física de riquezas.

Talvez resida nessa opção errada um dos principais fatores para o gargalo econômico-social brasileiro. O transporte rodoviário é evidentemente muito importante, porém não pode ser o principal meio, muito menos o quase único.

Não tenho dúvida alguma em afirmar que a incompreensível primazia do transporte rodoviário de carga é um dos elementos que engrossam o caldo amargo do chamado “Custo-Brasil”.

Os esforços dos exportadores brasileiros em tornar seus produtos mais competitivos no mercado internacional são eclipsados pelos ônus decorrentes do uso quase obrigatório do transporte rodoviário como meio antecedente aos transportes marítimo e aéreo.

Um exemplo concreto: o produtor de soja do cerrado gasta aproximados 35 dólares por tonelada para embarcar seu produto a bordo de um navio. O americano, seu competidor, gasta apenas 15 e, o argentino, 14. Isso porque EUA e Argentina têm boas malhas ferroviárias e condições logísticas gerais melhores do que as daqui.

Daí o custo-Brasil ser algo tão oneroso para quem produz, prejudicando não só os empresários, mas trabalhadores, sociedade em geral. O dinheiro que é absurdamente gasto em transporte ineficiente é o que poderia ser usado em políticas sociais e de bem-estar.

E ao falar em custos maiores, reporto-me aos de todas as ordens. A quantidade de acidentes envolvendo caminhões é infinitamente maior do que a envolvendo navios e trens. Os acidentes nas rodovias e estradas brasileiras mata mais gente anualmente do que guerras em curso no mundo.

Outro fato que salta aos olhos a respeito do ineficiente sistema de transportes do Brasil é o roubo de cargas, protagonista inglório de vítimas fatais e prejuízos bilionários. Afinal, não é preciso ser especialista no assunto para saber que é muito mais fácil roubar a carga de um caminhão do que de um trem ou um navio.

Por isso, entendo que o caminhão tem que ser utilizado para cobrir apenas as etapas e fases da logística de transporte não atingidas por trens ou embarcações. O desbalanceamento das matrizes de modos de transporte de cargas no país também afeta negativamente o meio-ambiente.

A poluição provocada por caminhões é sem dúvida alguma maior do que a gerada por navios e trens.

Apesar disso tudo, o Brasil, por motivos ignorados, não promove a navegação de cabotagem, tampouco incentiva o transporte ferroviário.

Talvez, esta é ao menos a boa expectativa, tudo isso mude com a recém aprovada lei de incentivo à navegação de cabotagem, conhecida por BR do Mar.

Espera-se que o novo marco regulatório incentive o empreendedorismo, fomente negócio, promova o câmbio de políticas e, finalmente, corrija rumos, colocando o Brasil em outro estado negocial.

Com o desenvolvimento sério e corajoso de uma política de transportes saudável e correta, milhares de empregos serão criados num só golpe, os empresários confiarão mais no chamado “Projeto-Brasil” e os investimentos serão feitos em profusão, gerando circulação e distribuição de riquezas. Penso que esse é um dos meios de se promover a dignidade da pessoa humana, princípio fundamental constitucional e a correção de tantas assimetrias sociais. Desenvolver e crescer economicamente. Agir com sabedoria e distribuir riquezas com justiça e equidade, dando a cada um exatamente o que é seu por Direito. Investir em infraestrutura e cuidar da logística de transporte é promover o autêntico bem-comum, sem parolagens ideológicas, narrativas pirotécnicas. Ações concretas, verazes e eficazes são o que a sociedade brasileira necessita.

Nada aquém, tudo além.

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