Priorizar a carreira, buscar estabilidades financeira e emocional, estar em uma relação fixa, viajar, incertezas da pandemia. São inúmeros os motivos que fazem as mulheres adiarem a maternidade. O avanço da medicina nesta área facilita o plano de ser mãe… no futuro.
Em 2020, uma pesquisa do DataSus mostrou que, nos últimos 20 anos, o número de mulheres que se tornaram mães após os 40 anos aumentou cerca de 49%. Em uma rápida busca no Google sobre o tema, é possível encontrar estudos científicos que já abordavam esse “fenômeno” em 1999.
Driblando o tempo
A educadora santista Laís Diniz * integra a estatística. Mãe aos 41 anos, ela conta que a carreira sempre foi prioridade em sua vida. Os gêmeos Pedro e Marcelo, hoje com 1 ano e dois meses, chegaram quando ela estava casada há 14 anos.
“Quando eu tinha meus 20 e poucos anos, eu não pensava em ser mãe. Pensava em estudar, seguir carreira acadêmica dentro da minha área de atuação. Eu fiquei muito (focada) no trabalho e, quando percebi, já estava com a idade avançada. O desejo surgiu conforme eu fui ficando mais velha”, diz.
Entre as tentativas de engravidar naturalmente e o nascimento dos bebês demorou três anos. Um problema de saúde fez com que ela recorresse à fertilização in vitro. “Aos 40 descobri que estava com as trompas obstruídas. Foi quando optei pela reprodução assistida. Soube que estava grávida uns 12 dias após o procedimento. E foi uma sensação maravilhosa. Chorei de felicidade, alívio. Nem sei explicar direito”, comemora.
A falta de energia para acompanhar o crescimento das crianças – medo comum entre as mulheres que são mães após os 40 – não afeta Laís. Pelo contrário. “A rotina de trabalhar e ser mãe de dois é puxada, mas a alegria e o amor recompensam”, diz.
*Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada.
Caminhos que a medicina oferece
Técnicas e tratamentos como a fertilização in vitro (realizado pela Laís), a inseminação artificial e o congelamento de óvulos são as possibilidades para as mulheres que querem ser mães – mas não agora – e também para as que podem pagar por eles. Os valores chegam a R$ 30 mil, dependendo do procedimento.
Soma-se a isso o principal fator biológico: a idade. “A fertilidade diminui com os anos. As mulheres nascem com de 2 a 3 milhões de óvulos. Quando menstruam, esse número cai para 400 mil e, a cada menstruação, perdem mil óvulos. A idade ideal para engravidar deve ser antes de 35 anos. Porém, se adiar a maternidade, a taxa de gravidez diminui e o risco de aborto aumenta”, explica a médica Waleska de Carvalho, especialista em reprodução assistida na Clínica Progerar, em Santos.
Para as mulheres que pretendem engravidar depois dos 35, o congelamento de óvulos passa a ser a opção. “É uma técnica de preservação da fertilidade para mulheres que desejam adiar a maternidade, para as que possuem antecedente familiar de menopausa precoce e também para as pacientes portadoras de câncer que serão submetidas à quimioterapia ou radioterapia – o que pode levar à falência ovariana”, diz a médica.
O procedimento leva em torno de 14 dias e é feito em etapas que vão desde a estimulação dos ovários com injeções de medicamentos à captação do material, que deve ocorrer no centro cirúrgico da própria clínica de reprodução. Além do custo do tratamento em si, neste caso, é necessário pagar uma taxa para manter os óvulos congelados.
Fertilização in vitro x inseminação artificial
Apesar de ambas as técnicas terem a mesma função, a fertilização in vitro é um tratamento considerado de alta complexidade onde o encontro do gameta feminino (óvulo) e o gameta masculino (espermatozoide) ocorre fora do organismo, no laboratório.
“A inseminação intrauterina é um procedimento de baixa complexidade, onde esse ocorre dentro do organismo. Nesse procedimento, depositamos o sêmen preparado dentro do útero da paciente, diminuindo, assim, a distância percorrida pelo espermatozoide para encontrar o óvulo”, conclui Waleska.