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Diário da guerra do porco

11/10/2023
Diário da guerra do porco | Jornal da Orla

Um clássico sul-americano sobre a velhice 

“Tudo se torna relativo com o tempo. Mais que tudo, as pessoas”. Esta passagem bem sintetiza o âmago do romance Diário da guerra do porco, um dos grandes livros que compõem a maravilhosa cultura literária sul-americana. Envolvido numa trama de violência, tragédia e desamparo, o livro enfrenta de forma corajosa questões sobre a velhice.

Adolfo Casares, com a maestria que lhe é típica, orquestra a trama inusitada de seu livro: pululam na cidade crimes violentos praticados contra idosos. O protagonista e seus velhos amigos se veem enredados numa preocupante atmosfera de confusão e ameaças. Afinal, qual seria o motivo para tanta violência? A resposta é dura, crua e cruel: o ódio contra idosos.

Há romances que, para além da estória narrada, transmitem um cabedal de boas elucubrações ao leitor. Cheio de trechos, passagens e citações notáveis, este Diário é um rico exemplo.

 

Motivos para ler:

1- Adolfo Bioy Casares (1914-1999) é um monumento. Argentino de Buenos Aires, edificou vasta carreira nas letras. Seu livro A invenção de Morel é reconhecido como uma obra-prima literária. A profunda amizade e parceria com Jorge Luis Borges resultou em trabalhos para sempre;

2- Em sociedades capitalistas neoliberais (sem preocupações sociais) é comum o escanteamento de idosos. Os velhos não mais participam da grande roda de consumo; ao contrário, demandam gastos estatais – logo, são abandonados pelo sistema. O “Estado mínimo”, alardeado por alguns liberais, afeta diretamente os mais vulneráveis; dentre eles, os idosos: vide os cortes na previdência pública, depauperando suas aposentarias. Eis uma séria reflexão: em que espécie de Estado queremos viver?;

3- A velhice costuma trazer sabedoria, salvo raras exceções – o terrível 8 de janeiro, no qual pessoas de 3ª idade praticaram crimes contra o patrimônio público e a Democracia, foi um triste exemplo de dissociação entre velhice e sapiência. De todo modo, certo é que o Estado tem o dever constitucional de assegurar a dignidade e o amparo a todos os seus idosos, valorizando-os e dando-lhes a assistência necessária.

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