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Brasil lidera ranking de mortes de pessoas trans pelo 14º ano

27/01/2023
Brasil lidera ranking de mortes de pessoas trans pelo 14º ano | Jornal da Orla

Maioria dos casos foi motivada por ódio; 72% dos autores não conheciam a vítima

O Brasil ocupa, pelo 14º ano consecutivo, o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos de pessoas trans e travestis. Em 2022, 131 pessoas trans foram assassinadas no Brasil e outras 20 tiraram a própria vida. Deste total de 151 pessoas trans mortas em 2022, 65% dos casos foram motivados por crimes de ódio, com requinte de crueldade. 72% dos autores não tinham vínculo com a vítima. Quase 90% das vítimas tinham de 15 a 40 anos.

85% dos assassinatos foram cometidos com extrema selvageria, como uso excessivo de violência, grande quantidade de disparos, esquartejamentos, afogamentos e outras formas brutais de violência.

Os dados assustadores fazem parte do levantamento realizado pela Associação Nacional de travestis e transexuais (ANTRA). Intitulado “Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras”, o documento revela que mulheres trans e travestis têm até 38 vezes mais chance de serem assassinadas em relação aos homens trans e às pessoas não-binárias.

O documento revela também que a estimativa média de vida de pessoas trans é de 29,5 anos. 79,8% são pessoas negras e pardas e, portanto, sofrem preconceito duplamente.

A compilação de dados para concluir o estudo é um verdadeiro quebra-cabeças, já que não existem dados oficiais sobre a violência contra a população trans no Brasil. O levantamento anual é feito a partir de pesquisa em matérias de jornais e informações que circulam na internet, bem como de relatos que são enviados para a organização. A coleta é diária e manual. Ao longo desse trabalho, as informações são inseridas em um mapa virtual, que detalha nome, identidade de gênero da vítima, local da morte e o que mais estiver disponível.

 

Combate à transfobia

A secretária de Articulação Política da entidade, Bruna Benevides, alerta para a desmobilização de órgãos e entidades que deveria proteger pessoas trans durante o governo Bolsonaro. “Houve exclusão de comitês e mecanismos de proteção e visibilidade da pauta pelos ministérios dos Direitos Humanos, da Educação e das Relações Exteriores”, apontou.

O levantamento foi entregue ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Silvio Almeida, na quinta-feira (26). Presente no evento, a secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, afirmou que os dados vão ajudar a definir políticas públicas de proteção a esta população. “Iremos trabalhar com ousadia. Vamos realizar entregas importantes para a população brasileira”, disse ela, que é a primeira travesti a ocupar o cargo.

 

 

Para o ministro Silvio Almeida, apesar da tristeza estampada nas páginas do relatório, a existência do documento aponta para caminhos que levarão o Brasil a superar a tragédia dos números a partir da mudança e da transformação. “Quando falamos sobre gênero e sexualidade, somos acusados de sermos identitários. Pergunto a essas pessoas se é possível construir um país com os números que vemos agora”, provoca.

“É possível construir um país suportando o assassinato de pessoas só porque elas são o que elas são? Se não tivermos a decência de mudar essa realidade, não merecemos ser um país”, reconhece.

O “Dossiê: Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras” é feito pela ANTRA desde 2017. Além do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o levantamento também conta com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). A versão digital do Dossiê estará disponível para download no site Antra 

Dia da Visibilidade Trans em Santos

Para celebrar o Dia Nacional da Visibilidade Transexual e Travesti, lembrado em 29 de janeiro, a Coordenadoria de Diversidade (Codiver) da Secretaria da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos (Semulher) de Santos realizará palestra na próxima quarta-feira (1º) e um dia de beleza gratuito no dia 4 (sábado).

A palestra ‘Aspectos psicossociais e educativos do uso do nome social e seus impactos nas relações interpessoais’ acontece no auditório do 5º andar do Paço Municipal (Praça Mauá s/nº, Centro), a partir das 14h30. A ministrante é a psicóloga clínica e esportiva Paloma Melo, que também é pedagoga da área de inclusão e gestora e orientadora educacional na Prefeitura de Santos.

Já o dia de beleza, voltado a mulheres transexuais e travestis, ocorre no Salão Autoestima, na Vila Criativa da Beleza (Praça Iguatemi Martins s/nº, Vila Nova), das 13h às 17h. Serão oferecidos, gratuitamente, cortes de cabelo, escova, manicure e pedicure, design de sobrancelhas e maquiagem. A ação tem o objetivo de resgatar a autoestima dessas mulheres na data que é considerada essencial na luta transexual e travesti.

 

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