Comportamento

De permanente a provisório, o home office veio para ficar. E agora?

20/02/2021
De permanente a provisório, o home office veio para ficar. E agora? | Jornal da Orla

Uma das principais mudanças ocorridas por causa da pandemia, o home office afetou drasticamente a dinâmica profissional e, ao mesmo tempo, a o cotidiano das residências. E, ao que parece, esta mini revolução veio para ficar. Diversas empresas e profissionais independentes já decidiram que, mesmo com os fim das restrições necessárias para conter o novo coronavírus, trabalhar em casa será “o novo normal”.

Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise covid-19, elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), mostra que 34% das empresas vão continuar com 25% de seus profissionais em sistema de home office; outros 29% pretendem manter metade ou até mesmo todos os seus funcionários trabalhando em casa.

Entre as vantagens observadas para continuar trabalhando em casa estão a redução de despesas com o endereço profissional (aluguel, contas de consumo como energia elétrica e internet) e também economia de tempo e dinheiro com deslocamentos. 

Outra pesquisa, feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), indica que 20,8 milhões de pessoas (22,7% dos postos de trabalho) podem utilizar o sistema de home office. Pela natureza da atividade, têm mais condições de trabalhar em casa profissionais da ciência e intelectuais (65%), diretores e gerentes (61%), apoio administrativo (41%) e técnicos e profissionais de nível médio (30%).

 

Efeitos colaterais
Porém, trabalhar em casa também trouxe efeitos colaterais como a desorganização da rotina doméstica e a exaustão emocional, até por conta da pandemia, e física, uma vez que os profissionais precisaram se adaptar rapidamente à nova realidade.

A maioria dos profissionais não tinha um espaço específico na sua residência adequado para trabalhar. Foi preciso fazer alteração, muitas vezes, na base do improviso.  

O home office fez com que muitos profissionais trabalhassem mais, para continuar realizando suas tarefas remotamente. Por estarem em casa, cumpriram jornadas mais longas, ainda que inconscientemente. 

Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que 56% dos entrevistados tiveram dificuldade para conciliar as atividades profissionais com a rotina da casa. 45% trabalharam mais horas e 36% perceberam queda na produtividade.
 

Prejuízos 
Ficar mais horas no computador ou ao telefone foram necessidades impostas pela pandemia. Além do estresse provocado por quedas de conexão, má qualidade de imagem ou som, as videochamadas provocaram dores físicas no trabalhador —principalmente no pescoço e nas costas. 

Por o Brasil se um país onde impera a cultura machista (embora ainda exista muita gente que negue essa realidade), as mulheres que são mães foram as que mais sofreram com o home office. Tiveram que cumprir tripla jornada simultaneamente: as demandas da empresa, tarefas domésticas como arrumar a casa e cozinhar e cuidar dos filhos (um desafio adicional, pois estavam permanentemente em casa, por conta da suspensão das aulas).
 

Harmonia
Já que o home office é uma tendência irreversível, é preciso adotar uma série de medidas para que os benefícios sejam maiores que os prejuízos.

A primeira precaução é com a rotina doméstica. Empresas e lares têm dinâmicas totalmente distintas e, portanto, a convivência precisa ser harmônica — uma não pode influenciar negativamente na outra. Por exemplo: o pai não pode ficar respondendo mensagens enquanto janta com a família ou o filho não pode ouvir música alta enquanto o pai faz uma reunião por vídeochamada.

Outro aspecto é a relação profissional-empresa/superior. Nesta nova realidade, o que muda nos direitos do trabalhar? E a chefia, como cobrar horários e produtividade?

 

Direitos e deveres
Especialista em Direito do Trabalho, a advogada Telma Rodrigues alerta que o home office não pode ser confundido com teletrabalho, que está regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “O teletrabalho não inclui controle de jornada, prioriza o serviço a ser executado, independentemente do tempo da jornada. Já o home office, até por ser uma novidade, não possui regulamentação legal”, explica.

Segundo ela, a mudança crucial é apenas o local físico onde o profissional exerce a sua atividade e, portanto, todas as demais condições permanecem, como a necessidade de cumprir horário bem definido, a subordinação a superiores e entrega de resultados. “Consequentemente, o pagamento de horas extras, adicional noturno e o respeito ao intervalo intrajornada devem ser garantidos”, completa.

Telma Rodrigues afirma que cabe ao empregador estabelecer o mecanismo de controle desta jornada, assim como garantir todas as condições necessárias para que o profissional exerça suas tarefas, “como faria se o trabalho se realizasse na sede da empresa”. Assim, a empresa deve oferecer os equipamentos e custear despesas com energia elétrica e conexão à internet.
 

Dicas para um home office adequado

• Fuja das distrações: escolha um local estratégico para posicionar o seu espaço de trabalho, principalmente se a sua rotina exige uma concentração a mais para lidar com tabelas e relatórios. Evite estímulos que tirem o foco e distraia, como criar o espaço de home office ao lado da cozinha, com o cheiro de comida invadindo o espaço, ou então ao lado da sala de estar, com pessoas assistindo TV.

• Cores suaves no ambiente: a atmosfera do ambiente afeta diretamente a produtividade. Para não errar, opte por trabalhar em um local que não seja poluído, com excesso de informações que possam dispersar. Se você trabalha com ideias, criatividade, pode pensar em detalhes laranja ou amarelo. Se o seu trabalho é muito exaustivo, o verde e o azul ajudam a ter calma e tranquilidade. Cores neutras e o branco são sempre uma boa opção. É importante ter cuidado com as cores escuras, principalmente se o ambiente não for bem iluminado.   

• Ergonomia: a altura da mesa e o tipo de cadeira são fundamentais para o rendimento e trabalho diário. É mais do que essencial investir em móveis funcionais e confortáveis, visto que muitas vezes as reuniões e dias de trabalho podem durar a manhã e tardes seguidas. Indicamos o uso das bancadas com 50cm para quem usa laptop e 60cm para quem usa desktop. Se você usa mais de um monitor, 60-70cm é uma medida perfeita para trabalhar. Pense sempre na saída dos cabos da mesa e como é o alcance dela até a tomada, assim como a iluminação, a parte elétrica é fundamental para trabalhar. A altura ideal e a cadeira correta fazem diferença também! Procure sempre apoiar os cotovelos e ter um espaço para descansar os pés.

• Decoração clean: por se tratar de um ambiente que precisa ser um pouco mais corporativo, a decoração precisa ser harmoniosa e funcional. Além disso, plantas e quadros podem dar vida e alegria para o espaço. Um espaço organizado melhora a produtividade, uma luz ideal dá mais energia para trabalhar, uma mesa e cadeiras confortáveis fazem com que os dias passem mais rápidos e evitam dores nas costas e no corpo. Para renovar ainda mais o espaço, ventilação e circulação de ar são uma ótima solução também. 

• A iluminação faz toda a diferença: Trabalhar em um ambiente escuro pode te deixar mais cansado e menos produtivo. A iluminação é o ponto mais importante para uma boa produtividade. É recomendado trabalhar sempre perto de uma janela, pois a iluminação natural, a ventilação e a conexão com o ambiente externo fazem toda diferença na rotina. A escolha da temperatura de cor também é fundamental:luz fria acorda, ou seja: é indicada para home office. Para não errar, escolha a temperatura neutra ou fria!