Há uns anos que eu possuo o hábito da escrita matinal. Uma maneira de esvaziar a mente, observar padrões e simplesmente soltar mesmo os pensamentos que tantas vezes consomem tanta energia.
E eu já falei em outros artigos sobre essa prática. Mas, mesmo tendo um efeito meditativo, quase como o das páginas matinais, a escrita terapêutica é diferente.
Enquanto uma traz a despressurização mental, a escrita terapêutica te leva a elaborar mais o texto, e convida a uma maior canalização do seu foco, amplia a concentração. Mas nos pede que não seja nada técnico e nem copiado. Livre pensar da mente criativa.
É um chamado de quando a nossa consciência está querendo colocar algo pra fora, está querendo nos dizer algo, mas a mente tagarela não permite a nossa escuta intima.
Essa semana tive uma experiência bem interessante com essa ferramenta, e por isso resolvi compartilhar aqui com vocês. Em um dia de muita atividade mental (essa semana muita gente me relatou estar passando por processos semelhantes), mas enfim, nesse dia, eu decidi escrever um texto.
E comecei a escrever sobre o que eu estava sentindo, como se estivesse relatando em terceira pessoa, os sentimentos que eu estava vivenciando, causados ali pelos ruídos mentais.
E aquilo começou a trazer vários insights. Porque foi uma maneira de eu escapar do turbilhão que me desestabilizou, e conversar com essa consciência centrada, que estava tentando me acolher.
Existe um estudo do Keith Oatley, publicado na revista “Trends in Cognitive Science”, que nos mostra que ler ficção ajuda mesmo a gente a se relacionar melhor com as pessoas. Desenvolvemos empatia, desenvolvemos perspectiva mais ampliada sobre as experiências. Você lê, imagina como você viveria aquilo, e quando vê que a personagem toma diferentes atitudes, aumenta teu repertório de possibilidades. Sai das reações engatilhadas.
A ficção autobiográfica me fez olhar de fora e eu consegui tornar aquele processo uma maneira de gerar autoconhecimento, e reconhecer a sacada que estava por trás de tudo aquilo.
A mente racional e pragmática bloqueia muito a nossa criatividade, a nossa expressão autêntica. Vamos enrijecendo a visão das coisas que nos propomos a realizar, e podemos acabar nos perdendo da alegria que é estar realizando pelo simples prazer da ação, como falamos semana passada.
E essa escrita ajuda exatamente a quebrar isso. Não tem maneira certa de exercer a sua criatividade, a não ser abrir oportunidades para que você libere a expressão do que está represado querendo ser.
Fora que a contação de histórias tem um poder de trabalhar com a nossa psique em níveis não racionais, que faz a gente aprender receber ensinamentos mesmo sem perceber. O autojulgamento e o crítico interno não criam objeções.
Sabe quando você tem aquela pessoa teimosa que não quer te ouvir, e continua fazendo besteira? Então. Uma boa história com a lição de moral que ele precisa ouvir, vai melhorar suas chances de conseguir que ele te escute.
Você pode usar essa prática para traumas vividos no passado. Por alguma questão pontual do seu dia. Comece a relatar seus sentimentos, emoções. Não pense em erros de português, concordância, nada. Só permita que esvazie.
Você vai se deparar sim com angústias e tristezas, exatamente para poder encará-los com esse novo olhar, e assim ressignificar o impacto que causam em você. Suas reflexões elaboradas ali, trarão novos ângulos e profundidades de consciência para os acontecimentos.
Positividade não é sobre negar as emoções “negativas”, devemos sempre lembrar disso. É sobre olhar de frente e dispostos e compreender a fonte do que desencadeou aquilo e se propor a estabelecer um novo padrão para a questão.
É sobre a gente começar a redesenhar a resposta fisiológica do nosso corpo aos estímulos da mente, e melhorar o bem-estar que nosso corpo experiencia.
Essa semana pratique a escrita terapêutica. Não crie expectativas. Não exija nenhum tipo de qualidade literária. Apenas de vazão ao fluir do processo. E divirta-se!
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