Ana Paula Siqueira
A tecnologia revolucionou a forma de comunicação da sociedade e hoje vivemos praticamente todo o nosso tempo conectados. Se para os nascidos no século XX a internet exige uma constante adaptação ao novo modelo de vida, os mais jovens já chegaram em um mundo digital e essa imersão em tecnologia faz parte da cultura dessas novas gerações.
O bullying é um problema que existe há décadas, mas que ganhou uma nova dimensão com a tecnologia. Há 20 anos, o jovem que sofria perseguição na escola encontrava um refúgio seguro em casa e nos outros ambientes que ele frequentava.
Atualmente, com as redes sociais, ele fica exposto ao agressor 100% do seu tempo e mesmo dentro de casa, no sofá, ao lado dos pais, ele pode estar sendo vítima de ataques.
Neste contexto, um aplicativo tem papel fundamental: o whatsapp. Hoje, praticamente todas as nossas atividades são reproduzidas em grupos de conversa pelo whatsapp.
Pode ser o grupo da escola, da natação, do trabalho, do futebol ou do condomínio. Todos eles ampliam o convívio entre agressores e vítimas.
Ou seja, se o bullying ocorre no clube aos finais de semana, é praticamente certo que o cyberbullying vai continuar no grupo de whatsapp do clube diariamente.
Diferente de outras redes sociais onde é possível se desconectar, o whatsapp está integrado ao cotidiano e reuniões, trabalhos escolares e eventos são organizados através da ferramenta. É praticamente impossível escapar.
Diferente do bullying, quase sempre praticado e limitado a agressões verbais e físicas, que ocorrem naquele momento, o cyberbullying é perpetuado em vídeos, figurinhas e montagens que, uma vez publicados, são guardados e utilizados sistematicamente como forma de humilhação.
A Lei do Bullying (Lei 13.185/2016) estabelece ações para escolas, clubes e associações sociais no combate à perseguição. O desenvolvimento de uma cultura da paz e a capacitação permanente de professores, colaboradores, pais e os próprios estudantes é uma obrigação.
Acompanhar e monitorar grupos de whatsapp, para evitar o cyberbullying, é parte fundamental desse processo permanente de controle e conscientização.
Com a liberdade que as redes sociais proporcionam, vem também a responsabilidade de usá-las de maneira ética e respeitosa. O cyberbullying tem consequências graves para a vítima e está na origem de casos de violência escolar e autoviolência.
Casos identificados devem ser detalhadamente investigados e abordados com discrição para a proteção da vítima e conscientização do agressor, podendo resultar até mesmo em ações disciplinares, variando de acordo com a gravidade da situação.
O convívio virtual ocupa cada vez mais tempo no cotidiano das pessoas e em breve a imersão no metaverso e a inteligência artificial serão realidades.
Algumas iniciativas simples podem ajudar a evitar os casos, como o bloqueio dos agressores, uso de ferramentas de privacidade online, a educação permanente sobre o cyberbullying e o diálogo com pais ou professores.
Cabe às famílias e às instituições estarem preparadas e capacitadas antecipadamente para esta nova realidade, para que o futuro seja um lugar mais acolhedor e com mais empatia para todos.
*Ana Paula Siqueira é sócia do Siqueira Lazzareschi de Mesquita Advogados, mestre em Direito Civil, professora universitária e diretora da ClassNet Consultoria.
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