Amada é um livro que tratamos com a mais digna e bonita reverência. Não só porque venceu o Pulitzer (1988) ou porque Toni Morrison foi contemplada com o Nobel (1993), mas porque se trata de uma verdadeira obra-prima. Não à toa é considerado por boa parte da crítica especializada como o melhor romance norte-americano das últimas décadas.
Morrison revelou os arrepiantes fatos reais que a inspiraram a escrever Amada. A autora diz que o livro se baseou em “Margareth Garner, uma jovem que, depois de escapar da escravidão, foi presa por matar um de seus filhos (e tentar matar os outros), para impedir que fossem devolvidos à plantação do senhor”. Note o horror: para Garner, antes a morte de seus filhos a vê-los subjugados pela escravidão.
O romance é vivido nos EUA de 1873, época da escravidão recém-abolida. Sethe e sua filha Denver, remanescentes de uma outrora numerosa família, vivem de forma reclusa numa casa assombrada. A visita inesperada da jovem Amada descortina um passado tenebroso. Brilhante, terrível e inesquecível.
Motivos para ler:
1- Toni Morrison, primeira escritora negra a receber o Nobel, dedicou seu trabalho a abordar com profundidade o legado da escravidão negra e mostrá-la como uma experiência pessoal. Uma das maiores escritoras de sempre. Foi professora em Princeton e faleceu em 2019;
2- Amada é um livro, sobretudo, sobre mulheres: Sethe e Denver olharam a adversidade de frente e viveram como puderam, o melhor que puderam. A sagrada Baby Suggs – líder da comunidade – viveu 60 anos como escrava e 10 em liberdade e decidiu que “como sua vida escrava estragou suas pernas, costas, olhos, rins, útero e língua, nada mais lhe restava senão ganhar a vida apenas com seu coração”. Bravíssimas;
3- O dia das mulheres é uma oportunidade de reflexão. Neste país ainda pululam altos índices de violência contra a mulher e déficits sérios na promoção social. Nesta cidade, atualmente, se discute se um ex-jogador condenado em definitivo pela Justiça Italiana deve ou não cumprir a pena por estupro. O mesmo declarou, anos atrás, que “infelizmente existe esse movimento feminista, e muitas mulheres às vezes não são nem mulheres”. O machismo estrutural brasileiro deve ser encarado de forma multidisciplinar e com seriedade.
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