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Em agosto nos vemos

01/05/2024
Em agosto nos vemos | Jornal da Orla

O último adeus de Gabo

A publicação post mortem é um evento que sempre causa muito furor, mormente se o escritor falecido possuía um nome de peso no mundo literário. Vimos isso acontecer quando Pilar del Río, presidenta da Fundação José Saramago, descobriu um romance inacabado do Nobel de Literatura português e decidiu publicá-lo. O mesmo acontece agora: herdeiros do gigante Gabriel García Márquez – também Nobel de Literatura –publicaram Em agosto nos vemos.

García Márquez faleceu em 2014. Seus últimos anos de vida foram duríssimos: entre a perda da memória e alguns lúcidos intervalos, tentou concentrar seus últimos esforços para terminar uma última obra. Dentre inúmeras versões, Gabo deu o seu veredito: “Este livro não presta. Tem que ser destruído”. Passados 10 anos de seu falecimento, seus herdeiros resolveram publicá-lo mesmo à revelia do autor.

Em agosto nos vemos é um breve e delicioso livro. Uma madura mulher casada viaja uma vez ao ano a uma ilha para visitar o túmulo de sua mãe. A cada visita, um amante diferente. Com início, meio e fim, é o último adeus de um dos escritores mais lidos e queridos de todos os tempos.

 

Motivos para ler:

1- O falecimento de Gabriel García Márquez causou imensa repercussão. Homenagens despontaram pelos quatro cantos do globo. Obama, então presidente dos EUA, declarou seu orgulho por possuir um exemplar autografado de Cem anos de solidão (a obra-prima de Gabo). O presidente da Colômbia pontificou: “Mil anos de solidão e tristeza pela morte do maior colombiano de todos os tempos”. Autor de obras consagradas, agraciado com inúmeros prêmios – dentre eles o Nobel de 1982 -, foi, sobretudo, um apaixonado latino-americano;

2- Em agosto nos vemos fala do desejo feminino sob a iluminada perspectiva do autor: sem julgamentos moralistas, revela o que de mais profundo e verdadeiro existe por baixo da pele. Cheio de referências, é um legítimo exemplar da belíssima e inconfundível obra de García Márquez;

3- Publicar obras póstumas é sempre questão polêmica. Gabo, em confusão mental, não conseguia dar fim ao romance. Disse expressamente que não queria vê-lo publicado. A despeito da última vontade do autor, seus herdeiros lançaram o livro, assumindo a “traição” para colocar o prazer dos leitores do mundo todo acima da proibição do falecido. De nossa parte, interpretamos como um presente: é emocionante ler algo inédito do escritor. Que Gabo nos perdoe.

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