Divertido, satírico e absurdo, é considerado o melhor livro de Don DeLillo
O ruído branco é uma espécie de sinal sonoro cujas frequências se projetam numa mesma potência, tornando-se assim “normal” ao ouvido humano, anestesiando-o. São exemplos o barulho do ar-condicionado, a TV dessintonizada e os aplicativos de sons para dormir. Don DeLillo, não por acaso, valeu-se do fenômeno sonoro para nomear este seu clássico da literatura pós-moderna.
Repleto de diálogos impagáveis e eventos que tangenciam o absurdo, o romance é narrado por Jack, um professor de “Hitlerologia” (matéria que ele inventou para tentar se destacar no meio acadêmico) que se vê mergulhado numa sequência inacreditável de situações caóticas deflagradas por um desastre ecológico.
O livro escancara, satírica e comicamente, o tom de estupidificação de uma sociedade pretenciosa que, no fim, só sabe ser ridícula: professores medíocres que se julgam geniais; a religião que não cumpre seu objetivo; o segredo da esposa de Jack e seus desdobramentos; o supermercado sempre colorido e ordenado. O leitor atendo perceberá que tudo o que acontece neste livro genial tem seus significados codificados.
Motivos para ler:
1- Don DeLillo, multipremiado e cultuado por leitores de todo o mundo, integra a respeitosa leva dos modernos escritores estadunidenses de alto escalão. Ruído Branco é seu livro de maior destaque;
2- O livro, como todo clássico atemporal, dialoga com o presente. Em tempos de mudanças climáticas, pós-verdades potencializadas pela internet e consumismos de todo gênero, o romance indicia quais os ruídos brancos atávicos que entorpecem a sociedade ocidental;
3- Ruído Branco ganhou uma estupenda adaptação cinematográfica homônima em 2022. O elenco conta com Adam Driver no papel de Jack, trazendo também Greta Gerwig e Don Cheadle. O destaque fica para o “debate” entre os professores Jack e Murray e a conversa (hilária) com as freiras. Assistir ao filme antes do livro é uma boa sugestão: ler o romance imaginando Jack como Driver torna tudo mais divertido.
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