Significados do Judaísmo

Iom HaZicaron

04/05/2022
Iom HaZicaron | Jornal da Orla

São duas sirenes que tocam a alma do povo judeu.

Em Israel, existem duas sirenes que são das mais importantes de todo o país, de todo o mundo judaico.

Elas são tocadas em dois momentos do Iom HaZicaron, o Dia da Lembrança dos Soldados Mortos em Defesa do Estado de Israel e das Vítimas do Terrorismo.

Desde o entardecer, como reza o calendário judaico, uma sirene é disparada por um minuto e o povo começa a sentir a gravidade da data, inteirando-se do peso de ser um israelense, sobrevivente onde muitos pereceram.

Os serviços em memória dos soldados mortos na Guerra da Independência foram realizados no Dia da Independência em 1949–1950; no entanto, a combinação entre a dor do luto e a felicidade da independência criou uma atmosfera emocionalmente difícil e as famílias dos mortos sugeriram a criação de um dia memorial nacional.

Estabelecido não oficialmente com a fundação do Estado de Israel em 1948, e promulgado em lei em 1963, Iom HaZicaron é exatamente o dia anterior ao Iom HaAtzmaut.

A lei foi renomeada em uma emenda de 1980 como “Lei do Dia da Memória dos Caídos das Guerras de Israel”. O significado desta mudança foi a sua expansão de um dia em memória dos soldados mortos do Estado para um dia em memória que inclui todos os mortos em ação durante as batalhas do Estado, bem como membros falecidos por ataques terroristas, na Polícia de Israel, no Mossad.

Talvez porque a maioria da população israelense tenha parentes ou amigos próximos que morreram defendendo Israel, Iom HaZicaron é amplamente observado em todos os setores de Israel, com raríssimas exceções.

Cada um, criança, jovem, adulto, idoso, de direita, de esquerda, ortodoxo, laico, hippie, seja quem for, esteja dirigindo, tomando um café na esquina, ou simplesmente em casa, coloca-se de pé, sabendo da importância deste dia.

São dois momentos em que o som atravessa o país inteiro, desde Rosh Hanikrá ao norte até Eilat no Sul, desde o Mediterrâneo até o Mar Vermelho.

É o aviso da tristeza que antecede o Dia da Independência, que nos permite homenagear, com toda justiça, cada ser humano tombado que faz parte do milagre da criação e sobrevivência desta pequena brava nação, que até hoje deve se defender contra aqueles que negam seu direito à existência.

É o som da revolta por aqueles que perderam suas vidas em navios miseráveis porque não podiam nem mesmo atracar na terra prometida.

É o silvar do descalabro de ônibus, aviões, restaurantes, salões de festas e outros recintos pacatos sendo destruídos pelo ódio vertido da intolerância em ataques terroristas.

É, acima de tudo, o ruído da insensatez dos corpos de nossos jovens soldados voltando sem vida, embrulhados em mortalhas, a partir de tantas guerras para defender nosso país.

No decorrer do Dia da Lembrança, cada pequena cidade homenageia seus entes caídos, cada autoridade visita nossos mortos, o país torna-se uma única família enlutada, chorando e rezando unida.

Em pleno dia, às 11 horas, toca mais uma vez a sirene por dois minutos e como num movimento orquestrado, Israel simplesmente para de novo.

Em plena ebulição, tudo mais perde o sentido. Só temos pensamentos para os responsáveis essenciais, que nos permitem dizer a frase milenar Am Israel Chai.

Por cada um deles, por todos eles, por toda uma nação ferida, Israel inteiro para, respeitoso e solene, ouvindo imóvel dois longos minutos de um som extremamente tocante. É só uma sirene, mas é muito mais. É o sangue judeu derramado para que o povo judeu tenha sua pátria.

Ao final deste dia pesaroso, como tudo em nossa tradição, toca uma nova sirene e, vibrando, passamos a comemorar a existência do milagre de nossa Terra Prometida. O alvoroço toma conta das cidades e o Dia da Independência de Israel é festejado.

São duas sirenes locais, mas, com certeza, tocam a alma do povo judeu mundo afora.

Em dezembro de 1947, já prevendo as dificuldades para que o Estado de Israel fosse estabelecido, o futuro presidente Chaim Waizmann disse: “Um Estado não é entregue a um povo em uma bandeja de prata”.

A partir desta frase, o poeta Nathan Altermam criou Magash Hakesef ”(The Silver Platter)”, um poema escrito durante a Guerra da Independência e que foi, durante muitas décadas, a leitura mais comum para as cerimônias de Iom HaZicaron.

A bandeja de prata Magash HaKesef
Nathan Altermam

A Terra fica parada.
O céu sombrio empalidece lentamente
Acima das fronteiras esfumaçadas.
Com o coração partido, mas ainda respirando,
O povo saúda o milagre inédito.
Sob a lua, envolvidos em alegria e espanto,
Esperam antes do alvorecer.

Então, de repente,
Caminham lentamente em direção à multidão
Uma menina e um menino.
Em traje de trabalho e calçados pesados
Eles escalam, em silêncio.
Usando ainda o traje da guerra, a sujeira
do dia trabalhoso e da noite sob fogo.

Sujos, cansados até a morte, sem saber de descanso,
Mas vestidos de juventude,
Como as gotas de orvalho em seus cabelos.

Silenciosamente os dois se aproximam
E ficam de pé.
Eles estão vivos ou mortos?
Através das lágrimas hesitantes, as pessoas olham.
“Quem são vocês, os dois silenciosos?”

E eles respondem: “Nós somos a bandeja de prata
na qual o Estado Judeu foi servido a você. ”

E falando, caem na sombra aos pés da nação.
Que a história de Israel ainda se estenda.
“Com sua morte, eles nos deram vida”

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