Em 2020, o mundo parou para se proteger contra o novo coronavírus. Mais de um milhão e meio de mortos e o número de infectados quase ultrapassa oito dígitos. Planos adiados, cidades inteiras paradas, comércios fechados, aulas interrompidas, colapso nos hospitais e políticos competindo entre quem conquistava mais popularidade e quem era o mais medíocre. Enfim, 2020 não foi um ano para amadores.
Como, então, recuperar a saúde emocional para enfrentar este novo ano? Será que é possível ter expectativas de que ele será melhor? Neste cenário incerto, é saudável colocar as metas para 2021 no papel? Nesta entrevista, a psicóloga Thais Santos nos ajuda a entender esse período e a nos preparar para o que virá:
Jornal da Orla – 2020 foi um ano difícil. Como, enquanto humanidade, na sua avaliação, saímos desse ano?
Thais Santos – Essa é uma pergunta muito difícil. Ainda estamos atravessando essa experiência coletiva de uma pandemia e todos os seus impactos sociais, econômicos, psicológicos… No entanto, cada pessoa vivenciou o ano de forma muito particular. 2020 não afetou a todos igualmente. O Brasil é cheio de desigualdades, há muitos recortes, cada um enfrentou questões e sentiu à sua maneira todas as mudanças e perdas. Percebo que o que fica são as lições deste período, como individualmente percebemos o que aconteceu (ainda acontecendo) e agimos em nosso meio, nas nossas relações. Como sairemos dependerá do que aprendemos nestes meses atípicos, ficam novas perguntas para respondermos: O que aprendi em 2020? Eu posso mudar algumas ações minhas para uma vida coletiva melhor? E, se eu posso, quero mudar?
JO – Devemos analisar nossas metas do início deste ano, considerando o que conseguimos e o que não conseguimos fazer?
Thais – No final do ano é natural uma autoavaliação, pensarmos sobre planos feitos no início. Porém, é importante considerarmos os desafios e particularidades deste ano. Enfrentamos uma pandemia e muita coisa mudou. Observando todo o contexto há a possibilidade de pensar sobre o que não foi feito e também sobre o que fizemos, o que cada um de nós superou, aprendeu, viveu neste 2020.
JO – Neste cenário de incertezas, é importante ou até mesmo saudável traçar grandes planos para 2021? Por onde começar?
Thais – Ter objetivos e projetos pessoais é muito importante para seguirmos melhor e mais confiantes no futuro. Já o ritmo dessa busca e a forma de planejar é muito particular. Minha sugestão é que cada pessoa avalie a fase que está vivendo. Se faz sentido pra você criar metas claras para o novo ano, crie e siga em frente. Mas, se você preferir não criar neste momento, siga no seu tempo possível. Não há uma receita que funcione para todos. O ganho está em compreender a sua melhor forma de buscar o que deseja.
JO – Quais as suas dicas para cuidar da nossa saúde emocional neste novo ano?
Thais – No intenso 2020 todos nós tivemos que encontrar uma forma de lidar com momentos difíceis. Para muitas pessoas foi possível experimentar atividades ou ações que podem colaborar para nossa saúde mental: conversar com pessoas queridas (mesmo online), praticar atividade física em casa, ouvir música, dançar, meditar, pintar, desenhar, ler, escrever, cozinhar, a lista é grande! Poderemos levar os novos recursos que descobrimos nos fazerem bem, o que funcionou pra cada um e cuidar do que não está bom. Cuidar-se exige atenção. Perceba-se, olhe honestamente para suas necessidades emocionais e físicas. Buscar ajuda profissional é fundamental quando está difícil seguir o dia a dia.