De acordo com o psicanalista Rollo May, uma pessoa emocionalmente madura se torna capaz de diferenciar os sentimentos em muitas gradações.
Hoje vou sugerir um exercício para aumentarmos o vocabulário para descrever nosso estado emocional. Ao longo da Vida, dificilmente somos convidados a verdadeiramente partilharmos sobre como nos sentimos. O famoso: como você está, geralmente vem seguido de um: Está tudo bem! E seguimos a conversa.
Se nos aprofundamos, podemos perceber o constrangimento da pessoa com quem conversamos, muitas vezes por ela não saber como reagir ao nosso estado vulnerável. E assim fomos moldados a ficar mais direcionados ao que os outros podem preferir que digamos.
Geralmente, quando falamos sobre um acontecimento, expressamos mais nossa opinião sobre o tal assunto, do que nos permitimos tomar consciência de nossos sentimentos. E essa “falha” acaba nos afastando de nós mesmos e cria abismos nos relacionamentos, por não conseguirmos estabelecer conexões emocionais aprofundadas, pelo medo de gerar conflito. Pois quando, ao invés de expor como nos sentimos de fato, nós emitimos nossa opinião, os outros se sentem criticados, e assim criamos um efeito inverso do que gostaríamos, na grande maioria das vezes.
Profissionalmente falando, aumentar nosso vocabulário emocional também traz benefícios. A resolução de conflitos fica mais fácil, funcionando para conflitos internos também, como já vimos no texto da última semana.
Marshal Rosenberg, autor do livro Comunicação Não-Violenta, nos levanta uma curiosa confusão que costumamos criar com o mau uso da linguagem, quando misturamos o uso do verbo sentir quando na verdade estamos expressando algo que nós pensamos ou cremos. Um exemplo seria: Eu sinto que sou ruim com as palavras. Quando isso é uma opinião e não um sentimento. “Eu me sinto frustrada por não conseguir expressar o que gostaria, pois percebo que me faltam as palavras” seria um sentimento.
Vou trazer uma lista* de sentimentos que podemos sentir quando estamos experienciando algo de forma positiva:
E agora uma lista* de sentimentos que podemos sentir quando estamos experienciando algo de forma negativa:
*Ambas as listas foram inspiradas em tabela apresentada no livro Comunicação Não- Violenta, de Rosenberg.
Agora analise as frases abaixo e veja se consegue identificar em quais eu quis expressar um sentimento:
1- Sinto que minha mãe não tem paciência comigo.
2- Fiquei apavorada com o filme que assisti ontem.
3- Quando você não responde minha mensagem, me sinto preterido.
4- Tenho vontade de gritar quando vejo uma injustiça.
E estas são minhas respostas, vejamos se concordamos ou não:
1- Por mais que tenha usado a palavra sinto aqui, essa frase expressa mais o que a pessoa está pensando, supondo que a outra esteja sentindo em relação a ela, emitindo uma opinião e não um sentimento.
2- Sim, se você escolheu esta frase, estamos de acordo de que um sentimento foi expresso.
3- Sim, a palavra preterido corresponde a um sentimento de rejeição, então estamos de acordo se você escolheu esta frase.
4- Vontade de gritar não corresponde a um sentimento, e sim a um pensamento.
Pratique. Esse tipo de análise e auto conhecimento se desenvolve com bastante prática, senão não se fortalece. No começo poderá parecer forçado e pode até ser desgastante essa reflexão, mas quando se perceber capaz de identificar o que está sentindo, e principalmente comunicar aos outros o que sente, ficará bem satisfeito e começará a ganhar maturidade em todas as suas relações.