Quando a gente se abre para a observação sincera de nossas emoções e pensamentos, decobrimos mais sobre nós mesmos, sobre nossa capacidade de resiliência e de superação, do que jamais poderíamos ser capazes de imaginar quando nos mantemos no estado dormente de negação dessas emoções e pensamentos.
No mundo caótico e inquietante que a gente vive, a correria do dia a dia nos permite a negação. Podemos culpar o externo por tudo de desagradável e o que julgamos de ruim, que esteja acontecendo conosco.
O estresse, a ansiedade, aquela sensação de que eu sempre tenho que estar fazendo outra coisa além daquela que estou fazendo no momento. Porque é tanta coisa para fazer. E essas coisas não me permitem estar em casa com a minha amada família. O trânsito rouba parte do meu tempo, os prazos.
Mas mesmo quando a gente é obrigado a parar, e ficar em casa junto a nossa querida família, o sentimento de querer estar fazendo outra coisa também nos consome. A gente também se pega ansioso, por nos sentirmos presos, por estarmos confinados em nosso lar doce lar
A forma como a gente enxerga nosso mundo interior governa a nossa vida. Se não mantemos um contato saudável conosco, se não conseguimos identificar o que estamos sentindo, dificilmente conseguiremos nos sentir melhor efetivamente. E sempre teremos que consumir coisas de fora que façam a gente se sentir melhor, remédios, bebidas, novela. Algo que me faça fugir da dura realidade de não entender o que se passa comigo.
Quando me passaram um remédio para me ajudar com as crises de fibromialgia desencadeadas pelo alto nível de estresse que sofri, só consegui tomar durante um mês. Me sentia tão chapada com aquilo, tão desconectada de mim mesma que não dei conta de manter aquela medicação. Foi uma atitude irresponsável, que poderia ter gerado graves consequências para minha vida, mas me fez mergulhar no mar de emoções que eu estava experimentando. E quando eu mergulhei, comecei a me conhecer e a curar. Por favor não façam isso! Continuem tomando os remédios se seu médico os prescreveu, mas associem a eles práticas de meditação que te permitam perceber seu ambiente interno.
As emoções não são boas nem ruins. Sentir tristeza não é negativo. As emoções trazem para gente uma informação sobre o que estamos experimentando dentro de nós. E o fortalecimento do ambiente interno começa a acontecer quando nos permitimos vasculhar e reconhecer o que nos leva a reagir a certos acontecimentos de uma maneira e não de outra. E vamos escolhendo como agir.
Se os meus condicionamentos internos comandam a minha percepção de Vida, se eu conseguir identificar quais são as programações que me fazem reagir com tristeza ou com raiva a alguma situação, eu posso reprogramar e começar a decidir como agir (e não reagir).
Muitos dos nossos condicionamentos nem fazem mais sentido para quem somos no momento que estamos vivendo, mas a gente acredita que pela experiência passada, aquela é a forma de lidar com a situação. Então repetimos o padrão.
Vou convidar vocês a começarem uma prática de meditação escrita nessa semana. É um trabalho bem simples, gostoso e investigativo que sempre estimulo as pessoas que atendo a fazer. Todo dia pela manhã, separe meia hora para escrever três páginas de qualquer coisa que lhe vier a cabeça, qualquer coisa mesmo. Não tem certo e nem errado, mesmo que ache que não tem nada para escrever, preencha as três páginas com “hoje eu não tenho nada para escrever”. Escreva como se ninguém fosse ler, porque ninguém deveria ler mesmo.
Essa técnica te permitirá perceber como muitas e muitas vezes a sua cabeça está falando as mesmas coisas sem parar, dia após dia. Você vai conseguir perceber com mais clareza as histórias que conta para si mesmo e as reclamações que continua resgatando
Ela também vai te permitir se aprofundar no que você está realmente sentindo. Pergunte todo dia para si mesmo, como estou me sentindo? E se permita desenrolar mais do que o simplório “está tudo bem”.
Para a gente ser capaz de prosperar, precisamos de mais do que estar bem. Precisamos conseguir resistir quando não estivermos. Mas não a partir de um estado onde não queremos sentir verdadeiramente o sentimento “negativo”, e sim encarando as dores com autenticidade e profundidade.
Enxergar nossas fragilidades nos fortalece. Vamos ganhando músculo emocional. Hoje em dia a depressão é a doença que mais incapacita as pessoas no mundo. Vivemos em um mundo que está sempre nos pedindo, ou melhor, exigindo, uma falsa positividade.
Mesmo quando não estamos bem, precisamos ser fortes e seguir em frente. Até que um dia não conseguimos mais. A fortaleza rui e nos enterra em nossos próprios escombros.
A fraqueza de sentir e demonstrar os sentimentos “ruins” vai contra a ideia social de que só estamos bem, quando estamos nos sentindo bem. E por mais estranho que pareça, isso não é verdade. Estamos bem quando a gente consegue perceber o que está acontecendo e somos capazes de superar o que pode estar trazendo desconforto e dor.
A rejeição só amplia o sentimento. Ele vai tomando proporções muito maiores do que se tivéssemos lidado com ele logo de cara. Que nem quando a gente está num relacionamento amoroso e vai deixando passar algumas coisinhas para não parecer chato e implicante no começo, e depois aquilo vem tudo a tona de uma única vez, como uma avalanche e suas bolas de neve.
Quando não nos permitimos viver as emoções, vamos perdendo a capacidade de gerar as competências necessárias para viver no mundo como ele é. Se eu não deixo meu filho se frustrar, o mundo fará isso com ele de forma mais cruel, e tantos jovens se suicidam hoje em dia. Conseguem perceber como isso é delicado?
A aceitação incondicional das nossas emoções é o pilar da resiliência e da verdadeira felicidade. Só que além de aceitar elas, precisamos ser capazes de reconhecê-las. Deixarmos de ser genéricos e classificar com mais precisão o que sentimos.
E essa precisão poderá nos dizer ainda mais sobre nós mesmos, pois começará a indicar o que mais valorizamos. Já que as emoções fortes surgem em relação aquilo que mais significa para nós.
Então faça o exercício proposto esta semana. Comece a se explorar. E você verá como irá colher benefícios generosos dessa experiência.
