Cena

‘Saturday Night Live’ erra ao fazer piada com aparência de atriz

17/04/2025 Gustavo Klein
Reprodução

Um dos grandes clássicos do humor em todos os tempos, revolucionário, engraçado e sempre muito aguerrido na crítica social o programa norte-americano Saturday Night Live errou feio na edição do último sábado ao parodiar a série The White Lotus com uma brincadeira até no título – The White Potus (potus é a sigla para ‘President of the United States’). A grande questão foi na caricatura feita pela atriz Sarah Sherman da atriz Aimee Lou Wood em que seu espaço entre os dentes da frente é ridicularizado com dentes falsos e marrons. Espaço, aliás, que marca outras estrelas do cinema, como Brigitte Bardot.

A atriz se manifestou em suas redes, classificando a brincadeira como cruel, além de sem graça. O post foi compartilhado por outras artistas, incluindo Georgia May Jagger, filha de Mick Jagger. Se me cabe aqui uma opinião pessoal – e acho que cabe, já que a coluna é assinada – qualquer “brincadeira” ou piada em que alguém é ridicularizado por alguma característica física ou algo que não pode ser mudado ultrapassa o limite da ética e da humanidade.

Este tipo de “humor”, que é puro preconceito disfarçado, não é tão incomum como deveria ser. No próprio Saturday Night Live e em outras produções, incluindo aqui o brasileiro Pânico, o mesmo erro já foi cometido em um passado recentíssimo. Vale lembrar o caso da filha do cantor Gilberto Gil, Preta Gil, retratada com deboche sobre seu peso e perseguida pelo programa em diferentes oportunidades. Ela processou.

Aos que acham que humor não pode ter limites e que eventuais abusos como este do Saturday Night Live devem ser resolvidos na Justiça, uma reflexão: o bullying, mesmo o que é cometido por um programa de tevê, pode ser responsável pela piora da saúde mental de alguém, por depressão e até suicídio. Ridicularizar e tornar popular uma imitação que debocha de alguém é, além de piada ruim e que fala mais sobre quem a conta do que sobre a vítima, uma forma de perpetuar estigmas e também de minar a autoestima e o reconhecimento profissionais de artistas que se destacam, muitas vezes, justamente por serem únicos e diferentes.