Longevidade

Santos se mobiliza e capacita idosos para o uso da tecnologia

03/05/2025 Alceu Nader
Santos se mobiliza e capacita idosos para o uso da tecnologia | Jornal da Orla

Celular na mão, dúvida na cabeça e, muitas vezes, medo no coração. Essa é a realidade de muitos idosos que, diante do avanço da tecnologia, encontram barreiras para acessar serviços básicos ou manter contato com familiares. A exclusão digital da terceira idade é uma preocupação crescente, sobretudo quando se soma a esse cenário o aumento dos golpes virtuais.

Mas em Santos, uma iniciativa vem mudando essa realidade: o curso gratuito de informática e cibersegurança para pessoas com mais de 50 anos, promovido pela Prefeitura em parceria com a Universidade Santa Cecília (Unisanta) e a Fundação Parque Tecnológico.

O curso, que teve início no último dia 24, é parte do programa “Inovação e Longevidade” e já acontece há alguns anos, sempre com grande adesão. A cada nova edição, a procura só aumenta, revelando uma demanda reprimida por inclusão digital e proteção no ambiente virtual. Com 240 vagas preenchidas rapidamente, a iniciativa tornou-se uma das mais disputadas entre as ações voltadas ao público sênior no município. E há quem defenda que ela deveria ser permanente e oferecida de forma proativa à população idosa da cidade e da Baixada Santista.

Tudo começou com a palestra “Revelando a Maturidade”, ministrada por Ana Bianca Ciarlini, coordenadora de Políticas Públicas para a Pessoa Idosa (Coppi), da Secretaria da Mulher, Cidadania, Diversidade e dos Direitos Humanos (Semulher).

A apresentação foi feita para professores da Unisanta e despertou o interesse do coordenador de cursos da instituição, Antônio Guerra. Ele levou a proposta às salas de aula do curso de Sistemas de Informação, colhendo entusiasmo dos alunos. O projeto ganhou ainda mais força quando o diretor da Fundação Parque Tecnológico de Santos, Eduardo Bittencourt, ofereceu o espaço físico para abrigar as atividades, consolidando a parceria entre Coppi, Unisanta e Fundação.

Aliança
O resultado é uma verdadeira aliança intergeracional: 24 universitários voluntários, treinados e engajados, ensinam pessoas com mais de 50 anos — muitas delas com mais de 80 — a utilizar o celular com autonomia e segurança. E tudo isso com custo zero para os cofres públicos. Até o fim do ano, os alunos aprenderão desde como realizar chamadas de vídeo até a identificar e se proteger de golpes virtuais, que crescem em número e sofisticação.

“Selecionamos estudantes que estavam empolgados em participar e, juntos, elaboramos um conteúdo acessível, que realmente dá independência ao idoso. Mas há uma preocupação constante com a segurança. Os golpes virtuais estão em alta, e os idosos são o principal alvo”, explica Antônio Guerra.

Gratidão
A Baixada Santista, como um todo, tem uma das populações mais envelhecidas do Estado, o que exige atenção redobrada com esse público. “Estamos realizando esta capacitação com gratidão. Unimos tecnologia e inovação para mostrar ao público 50+ as mudanças do mundo digital e prepará-los com segurança e qualificação”, afirmou a prefeita em exercício e secretária de Educação, Audrey Kleys. “Sabemos que os golpes virtuais estão em alta, e os idosos devem estar inseridos no mundo digital para aprender a se proteger”, reforça Nina Barbosa, secretária da Semulher.

A iniciativa enfrentou dois desafios logo de início: o primeiro foi a forma de inscrição. Para evitar que a barreira tecnológica impedisse a participação dos interessados, optou-se por um canal tradicional: o telefone. A segunda dificuldade foi lidar com a alta procura. Para resolver, Ana Bianca Ciarlini divulgou seu número pessoal. “Foi uma loucura. Durante dois dias, meu telefone não parou de tocar. Foi cansativo, não posso negar. Mas eu sentia meu fôlego renovar-se a cada inscrito com idade avançada. Vários dos alunos têm mais de 80 anos”, relata.

Ampliação
Para os organizadores, o sucesso de mais esta edição reforça a necessidade de ampliar o curso e transformá-lo em política pública permanente. “Há um desejo genuíno de aprender e participar. Não estamos apenas ensinando a usar o celular; estamos fortalecendo a autonomia, a autoestima e a segurança das pessoas idosas”, destaca Ana Bianca.

Com o envelhecimento acelerado da população e o avanço das fraudes digitais, a inclusão digital dos 50+ deixou de ser um luxo: é uma urgência social. A experiência de Santos mostra que é possível unir inovação, juventude, experiência e solidariedade para construir de forma contínua e responsável caminhos mais seguros — e humanos — no mundo digital.