Um olhar sobre o mundo

Respeito à pantomina

09/06/2022
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Quando você argumenta pessoalmente ou pelas redes sociais, sobre atitudes passadas que justificam fatos presentes, já não me surpreendo mais com algumas pessoas que acham que a história para elas acontece e será escrita daqui para frente. Nem preciso dizer como é difícil viver experiências com a ignorância ou a negação do que estrutura o presente, para o bem ou para o mal, se for o caso de uma avaliação.

Essas reflexões concluídas servem para a maior parte das coisas, especialmente para quem lida com a cultura, educação, política e seus governantes, não necessariamente nessa ordem. Mas você deve estar perguntando o porquê trouxe isso para um artigo em meio à tamanha confusão na própria humanidade.

Ora, a resposta é óbvia: se o estado de humor do mundo parece confuso para todos nós mortais, diante das ocorrências gerais, algumas inesperadas, todo esforço dispensado para encontrar respostas e tranquilizar tantos quantos alcançarmos, é válido e necessário. Na realidade, o difícil mesmo é ter essas respostas.

Porque sempre me lembro da minha infância e adolescência, apesar de viver numa cidade pequena no Interior do Estado de São Paulo, em Brotas, mantendo os melhores níveis de informação. Desde cedo era leitor assíduo de jornais impressos, para o deleite de minha avó, e ouvinte das emissoras de rádio paulistanas, em companhia de meu saudoso pai. Meu temor era a deflagração da 3.ª Grande Guerra Mundial ou do fim do Mundo, na ainda longínqua virada do século 20.

Curiosamente, essas lembranças se autenticam nos primeiros anos da ditadura militar instalada no Brasil em 1964, porque conseguia ouvir os cochichos sobre políticos locais que eram perseguidos por apoiadores do regime, ou pelos cartazes estampados na estação ferroviária, com uma profusão de fotos de pessoas tidas como procuradas pela polícia, sem um motivo claro para todos os pacatos cidadãos do lugar.

Fico triste quando lembro da aflição da minha saudosa mãe, sempre que para provocá-la eu verbalizava a palavra “comunista”, sem mesmo saber ainda o seu significado, que generalizava a identificação de todos que não concordavam com o estado de coisas abusivas praticadas pelo regime. Mamãe temerosa fazia sinal de tapar a minha boca, imaginando que estivesse saudando alguém que podia ser uma boa pessoa, demonizada pela interpretação da ignorância de parte das pessoas que cuidavam só da sua própria sobrevivência.

Daí faço um recorte no tempo, avançando casas de quase 60 anos, para testemunhar nos dias atuais as dúvidas de alguns sobre a forma da terra, se arredondada mesmo ou plana; sobre os valores democráticos, o respeito à Constituição Cidadã, o papel do Estado, a harmonia entre os poderes institucionais constituídos, os direitos e garantias individuais, a educação na escola para a convivência sadia e civilizada, o voto livre e direto em todos os níveis, a descentralização e a participação da sociedade, a liberdade de expressão, a pandemia, a verdade fundamentada, nua e crua.

Por isso acho importante compreender que o mundo aparentemente pronto em que vivemos, com os defeitos de muitos de nossos próprios erros do passado, passado, ou mais recente, ou presente, está assim porque houve atitudes que exigiram mais da ciência e do aperfeiçoamento das pessoas responsáveis pelo bem-estar geral. Tomo emprestado o dito de Antoine-Laurent de Lavoisier, de que “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, para daí negar o novo isso, novo aquilo, sem que se observe a mudança de fato nas atitudes mais corriqueiras dos homens, mulheres ou da identidade de gênero que o valha escolher.

Ninguém pode ser autossuficiente num mundo em que a solidariedade humana sempre é tão bem-vinda, contra o ódio, o individualismo, a intolerância, a desigualdade. Compreendendo esses comportamentos, saberemos na prática o valor do respeito e da paz tão ansiada, na vida, na saúde e na política, inclusive.

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