Um olhar sobre o mundo

Reindustrializar o Brasil é urgente

20/12/2022
Depositphotos

A pergunta que não se cala na Baixada Santista, e no resto do país: o que aconteceu com o decrescimento e o quase desaparecimento da indústria nacional? Embora o tema não seja exclusivo do Brasil, os novos governos – federal e estaduais – a partir de 1.º de janeiro precisam responder.

Donald Trump, na sua primeira eleição nos EUA, tinha o discurso da retomada da industrialização no solo americano, sintonizado com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento, preocupados com a importância das indústrias como motor da economia, geração de empregos, melhores salários, extensão de divisas, receitas tributárias, mas… ficou só na promessa.

As indústrias deviam ser vistas sempre como emergentes e a reindustrialização urgente, no entanto, pela inanição governamental, quase sumiram no mapa do nosso país. E o pior: também sumiram vozes e ações contra o fim de suas produções e o desemprego.

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, trouxe para a indústria o poder antes exercido pela agropecuária. Organizações como a FIESP ou a própria Confederação Nacional da Indústria – CNI, no Brasil, ou sua similar no Japão, a Kendaren, sempre foram interlocutoras das regras econômicas com os seus respectivos governos. Agora, qualquer decisão da área econômica passa pelo que o “mercado acha”. O tal do “mercado financeiro”, intangível, tornou-se um Deus muito temido.

Para explicar a perda do protagonismo da indústria, precisamos tratar tecnicamente das mudanças globais para o seu entendimento. Tendo o mercado financeiro como detentor de diretrizes econômicas, voltamos a 1930, quando as exportações eram apenas de comodities, sem nenhum valor agregado. E é justamente contra esse papel irrelevante para as nossas indústrias, que insurgimos e conclamamos os novos governos a mudar esse comportamento passivo.

O poder das empresas industriais mudou a partir de decisões de Ronald Reagan, nos EUA, e Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha. Em 1982, Reagan assina o “Garn-St Germain ACT”, que flexibiliza o setor financeiro americano. Thatcher, em 1986, altera as normas da Bolsa de Londres, permitindo a participação de instituições financeiras estrangeiras nos seus negócios. Em 1999, Bill Clinton revoga o “Glass Steagall ACT”, que restringia às instituições financeiras o uso desses recursos em operações especulativas. Isso acelera o processo de declínio do poder industrial.

Hoje em dia vivemos o reflexo da influência do mercado financeiro em nossas vidas, como o exemplo entre dois compradores de um carro: um pode pagar à vista e o outro só a prazo. Há pouco tempo, o vendedor não hesitaria escolher o primeiro, mas agora quer vender para aquele que quer pagar a prazo. Porque a instituição financeira pagará ao vendedor o que se convenciona chamar de taxa de retorno sobre o financiamento. Ele terá “dois lucros”: do carro vendido e da taxa de retorno do banco. O vendedor prioriza a venda de um crediário, enquanto o carro ou eletrodoméstico são só meios para o negócio.

Os industriais se tornaram rentistas. Os seus lucros são aplicados no mercado e não na modernização do empreendimento. Assim, indústrias vão se sucateando e resta a importação. Para quê milhares de empregados, investimentos em prédios, galpões e equipamentos? Os custos de importação são menores e ninguém quer se industrializar aqui, alegando o complexo sistema tributário, taxas e impostos, não é mesmo? Vamos pautar essa questão?

(*) NOTA: Esse artigo foi escrito a quatro mãos com o professor de Geopolítica, Carlos Alberto Tavares Laureano.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.