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Resenha da semana: Nada de Novo no Front (2002)

18/11/2022
Resenha da semana: Nada de Novo no Front (2002) | Jornal da Orla

“A Guerra é um lugar onde jovens, que não se conhecem e não se odeiam, se matam, por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam.” (Erich Hartman). Nada de Novo no Front é o mais novo épico de guerra produzido pela NETFLIX e o candidato da Alemanha para o OSCAR 2023 onde mostra uma guerra sem glamour e tampouco heroica. Na verdade, mostra uma guerra suja e miserável, com uma mistura de lama, sangue, pólvora e morte muito diferente das histórias que o cinema gosta de contar. Nesse sentido, Nada de Novo no Front é um soco de realidade ao mostrar o que há de mais sujo e pesado numa linha de frente e, quando a morte bate à porta, todos os ideais e palavras bonitas dão lugar a dura realidade de que a guerra é totalmente desnecessária.

Em uma adaptação do romance homônimo de Erich Maria Remarque, Nada de Novo no Front é uma história que segue o adolescente Paul Baumer e seus amigos Albert e Muller, que se alistam voluntariamente no exército alemão, movidos por uma onda de fervor patriótico. Mas isso é rapidamente dissipado quando enfrentam a realidade brutal da vida no front. Os preconceitos de Paul sobre o inimigo e os acertos e erros do conflito logo os desequilibram. No entanto, em meio à contagem regressiva, Paul deve continuar lutando até o fim, com nenhum objetivo além de satisfazer o desejo do alto escalão de acabar com a guerra com uma ofensiva alemã. O filme é dirigido por Edward Berger que, já inicia o longa com uma eficiência sequência que já dá o tom do filme, no qual um desesperado soldado morre minutos após chegar em uma batalha. Logo, o uniforme desse soldado é lavado e costurado e a etiqueta com seu nome é logo descartado, assim como sua vida. Pouco depois, um general exalta para uma nova turma de jovens convocados que aquela é a “melhor geração”. O diretor utiliza planos abertos e close-ups nos atores para contextualizar o público a cada cenário, como a ampla visão da natureza demonstrando a calmaria em tempos de paz, assim como criando uma atmosfera claustrofóbica com a aproximação dos inimigos a trincheira. Uma cena que apresenta de forma brilhante a brutalidade da guerra quando o protagonista presencia a morte de um soldado inimigo que se afoga em seu próprio sangue.

Em relação a parte técnica, o filme possui uma excepcional cenografia, com uma fotografia belíssima que deixa a produção com uma magnitude épica em tela, seja nas cenas das trincheiras ou em campo aberto.

A narrativa do filme aborda o lado perdedor da batalha, dando um tom trágico e urgente ao filme e o ritmo lento pode pegar muitas pessoas de surpresa, mas que faz todo o sentido pela história que está sendo contada. O longa choca pela violência e a maneira agressiva que retrata como é estar dentro de uma trincheira repleta de ratos e companheiros mortos, além de mostrar as dificuldades de enfrentar o exército inimigo, os soldados ainda tinham que lidar com a falta de comida, o rigoroso inverno, a precariedade do bunker e a quantidade de água empoçada.

Todo o elenco passa de maneira autêntica o horror de estar naquela situação desprovida de qualquer humanidade, com destaque para o ator Felix Kammerer que tem um arco primoroso de transformação.
Nada de Novo no Front ainda possui uma poderosa mensagem antiguerra sobre a cruel realidade do que é estar em guerra deixando claro como os jovens são totalmente manipulados por um falso patriotismo e tratados como peões em um tabuleiro de sangue e horror.

Curiosidades: Erich Maria Remarque, autor do livro no qual o filme é baseado, foi recrutado para o exército da Alemanha aos 18 anos, e em 1917, estava em uma das trincheiras da guerra lutando contra os franceses.

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