O filme decide explorar fraudes financeiras, disputas de poder e conflitos contratuais, elementos que são banais perto de toda a loucura e excentricidade da família Gucci
Ambição, ganância, traição, corrupção e vingança. Todos estes temas são abordados em Casa Gucci pelo diretor Ridley Scott que, aos 83 anos de idade, está vivendo o ápice criativo em sua carreira depois de realizar obras como Gladiador e Blade Runner. Com grande expectativa entre público e crítica e apontado como um dos grandes concorrentes ao OSCAR, Casa Gucci está longe de ser uma produção excelente. Operando basicamente como uma grande novela, transitando entre vários gêneros de forma abrupta, o longa de Ridley Scott tem a falta de foco em sua narrativa o seu maior problema ao retratar a história de uma das dinastias da moda mais tradicionais do século XX.
Casa Gucci é baseado na história de Patrizia Reggiani, ex-mulher de Maurizio Gucci, membro da família fundadora da marca italiana Gucci. Patrizia conspirou para matar o marido em 1995, contratando um matador de aluguel e outras três pessoas, incluindo o terapeuta. Ela foi considerada culpada e condenada a 29 anos de prisão. Quase 3 décadas de amor, traição, decadência, vingança e assassinato, o filme revela a importância e poder que o nome Gucci carrega e o quanto a família faz para ter o controle. Ridley Scott teve uma carreira entre altos e baixos, mas sempre mantendo um alto padrão de qualidade em suas obras que possuem uma abordagem épica em sua concepção e aqui não é diferente. O diretor aborda quase 3 décadas da família Gucci e, enquanto acerta no primeiro ato do filme ao criar uma história ácida, hilária e suntuosa em seu figurino (o que era o mínimo ao abordar a marca), Ridley não consegue capturar o espírito absurdo e controverso do caso, que marcou a cultura tanto quanto o assassinato de Gianni Versace. Inexplicavelmente, o diretor decide explorar fraudes financeiras, disputas de poder e conflitos contratuais, elementos que são banais perto de toda a loucura e excentricidade da família Gucci.
O roteiro, assinado por Becky Johnston e Roberto Bentivegna, aborda diversos assuntos da família ao longo de suas 2h30, que são abandonados no decorrer do filme como se os personagens se despedissem de um episódio de uma minissérie. Aliás, acredito que Casa Gucci funcionaria melhor neste formato, pois em determinado momento o público perceberá que a ordem cronológica dos fatos perdeu todo o sentido durante a metade do filme. Os roteiristas poderiam ter apresentado ao público a dinâmica do casal principal, as mudanças no meio do relacionamento e o trágico final (não é spoiler), algo visto semelhante em Cassino, filme de Scorsese que claramente foi usado como fonte de inspiração.
A parte técnica do filme é excelente (marca do diretor), com o caprichado desenho de produção e cenografia, maquiagem e figurinos, assim como a fotografia de Darius Wolski, mas a montagem confusa faz com que o filme perca o ritmo diversas vezes.
Outro aspecto que chama a atenção é o desempenho dos atores, que parecem estar em diferentes tons e por isso, não se encaixam.Adam Driver, que provou ser um excelente ator, tem uma performance contida e tímida mas seu sotaque não convence em nada. Já Jared Leto, ator que não merece o OSCAR que possui, se destaca de forma caricata com um excesso cômico que parece ter sido tirado do Zorra Total. Al Pacino rouba suas cenas (e não poderia deixar de ser) evocando seus icônicos papéis em filmes de máfia ao passo que Lady Gaga comprova seu talento iniciado em Nasce Uma Estrela, mas que ainda possui algumas limitações e não me causou esse impacto todo que estão falando em sua atuação.
Casa Gucci fica devendo em diversos aspectos e sua falta de foco acaba frustrando o resultado final que tinha um tremendo potencial. Não é um filme ruim, mas entra na lista de mais um filme mediano na carreira de Ridley Scott.
Curiosidade: O filme é baseado no livro Casa Gucci de Sara Gay Forden. Os fatos da história são verídicos.
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