A classe política e os partidos no Brasil não têm percebido, a cada eleição, que a sociedade não está nem aí para eles. Isso poderia ser um indicativo muito forte, se as transformações não dependessem de políticas para acontecer. Tenho buscado explicações para os resultados eleitorais do primeiro turno das eleições de 2022, e até agora a crítica se resume nas vantagens de um dos polos atuais em relação ao poder que acumularão na situação e na oposição, no seu maior palco de exposição, os parlamentos.
Uso referências de opiniões manifestadas há mais de quatro anos, para tentar fazer uma comparação com os resultados do pleito em 2018, que também foi surpreendente, principalmente para aqueles que acompanham por dentro a organização do processo eleitoral. Uma pesquisa do instituto Ipsos, a terceira maior empresa de pesquisa e inteligência de mercado do mundo, com sede na França e desde 1997 no Brasil, indicava em 2017 que 94% dos entrevistados (foram 1.200 em 72 municípios) diziam não acreditar que os políticos que estão no poder representam a sociedade.
Na época, ouvido a respeito, o cientista político José Álvaro Moisés, da USP, ressaltava que essa crítica radical ao modo como a política funcionava no Brasil, exibia que a população não se sentia representada por quem elegeu e por quem está no poder. E que os números sugeriam o aparecimento de uma consciência crítica, “uma característica sofisticada, na qual temos a democracia como ideal, mas nos sentimos livres para criticá-la de forma madura”.
Para Moisés, as pessoas queriam “restaurar o princípio da representatividade política”, para eleger representantes que de fato estejam conectados às causas comuns. E não houve nesse tempo, por exemplo, a aprovação de medidas institucionais que garantissem a aproximação da sociedade com os seus representantes escolhidos, como o voto distrital misto, que tramita em Brasília e não há vontade política para fazer com que saia do papel.
Fica a impressão de que os políticos, em todos os níveis, passam a ideia de defenderem apenas os seus próprios interesses, resultando num problema da democracia no Brasil. Pois dessa percepção, 50% consideravam a democracia como o melhor regime para o país, mas 47% achavam que o tipo de democracia brasileira não era o melhor, além de espantosos 86% que não se sentiam representados pelos que receberam os seus votos.
Desse quadro em agosto de 2017, ora reproduzido nesta reflexão, analistas viam “risco de espaço para líderes autoritários”, que se confirmou, por conta das notícias de corrupção que sobressaíam, para que o país tivesse uma solução de fiscalização ao Congresso Nacional, cuja imagem vinha chamuscada pelas investigações da Operação Lava Jato.
Mas essa queda de aprovação, que ainda hoje parece que não é considerada, se observava em 2011, durante a análise dos dados do Censo de 2010, retratando a defasagem entre evoluções e problemas da sociedade e prioridades dos partidos. As novas classes sociais que ascenderam, desde a materialização dos direitos da Constituição de 1988, além de recursos, reivindicam inovação, qualidade de vida, melhor atendimento. Respostas que podem ajudar a entender os seus insucessos presentes.
…
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.