Educação

Projeto prevê recuperação da Escolástica Rosa

03/02/2023
Projeto prevê recuperação da Escolástica Rosa | Jornal da Orla

Edificação inaugurada em 1908 está fechada desde 2018, por falta de manutenção

Uma novela que se arrasta há anos, a recuperação da Escolástica Rosa parece caminhar para um final feliz. Será apresentado neste domingo (5), o projeto de restauro da edificação histórica, que está desocupada desde 2018, por conta de severos problemas na estrutura.

A recuperação do Conjunto Arquitetônico Dona Escolástica Rosa será realizada pelo Núcleo de Pesquisa e Estudo (Nupec), entidade que é a atual locatária do imóvel, que pertence à Santa Casa de Santos, em parceria com o Centro Regional de Pesquisas Arqueológicas (Cerpa).

A Nupec é uma associação sem fins lucrativos, que visa o desenvolvimento de pesquisas nas áreas da Biologia e da Arqueologia. Ela alugou o imóvel em 2021, com o compromisso de recuperar a edificação, além de assumir todas as obras e manutenções mesmo após o restauro, preservando todo o Conjunto Arquitetônico, que é tombado (a nível municipal, em 1992; e estadual, em 2013).

O Plano Santa Saúde é um dos patrocinadores do projeto. O plano de restauro foi elaborado pelo arquiteto Gustavo Nunes, da To Fix Arquitetura, especializada na recuperação de edifícios históricos. O projeto prevê a recuperação de todas as instalações do complexo, entre elas os prédios que abrigam salas de aula e oficinas, o ginásio e o Capela Dom Bosco. A estimativa é que os trabalhos sejam concluídos em cinco anos.

 

Herança de João Otávio

O Instituto Escolástica Rosa é o cumprimento do testamento de João Otávio dos Santos, um próspero empresário e dono de propriedades. Filho bastardo de uma escrava com um membro da corte de Dom Pedro 2 (Joaquim Otávio Nébias, ou Conselheiro Nébias), ele registrou em vida o desejo de construir uma escola para crianças pobres no terreno de 17 mil m² em frente ao mar, na praia da Aparecida, e que a unidade levasse o nome de sua mãe: Escolástica Rosa.

João Otávio ainda doou outros 74 imóveis para a Santa Casa de Santos, para garantir recursos para o funcionamento da escola. Com o falecimento dele, em 1900, o seu amigo e testamenteiro Júlio Conceição encarregou-se de concretizar o desejo, feito com projeto do arquiteto Ramos de Azevedo.

O Instituto Escolástica Rosa foi inaugurado em 1º de janeiro de 1908, com salas de aula, dormitórios, oficinas, casa do diretor, ginásio e capela, atendendo 70 jovens.

O Escolástica Rosa foi a primeira escola profissionalizante do Brasil, oferecendo cursos de marcenaria, fundição artística, alfaiataria, tipografia e escultura.

Os restos mortais de João Otávio foram depositados abaixo de uma estátua feita à sua imagem e semelhança, no pátio central do complexo. Há quem diga que a estátua se move, como se estivesse vigiando o comportamento dos alunos…

 

Impasse gerou deterioração

O Escolástica Rosa teve gerência própria até 1933, quando foi firmada parceria entre o Governo do Estado e a Santa Casa, para que a instituição pudesse receber alunos externos —inclusive meninas. Além das aulas normais, eram oferecidos cursos profissionalizantes.

Em 1939, a capela foi ampliada, sendo dedicada a São João Bosco, o patrono da juventude e do ensino profissional.

Ao longo das décadas foram feitas diversas ampliações e adaptações, como as feitas em 1969, para abrigar a Escola Técnica Aristósteles Ferreira, e em 1987, para sediar a Faculdade de Tecnologia (Fatec).

Em 2004, o Centro Paula Souza (órgão ligado ao Governo do Estado) assumiu o complexo, para a formação do “campus Santos”, reunindo as ETECs Escolástica Rosa e Aristóteles Ferreira e a Fatec-Baixada Santista.

E parece que foi aí que os problemas começaram. O prédio começou a se deteriorar, por falta de manutenção. Proprietária do imóvel, a Santa Casa argumentava que a responsabilidade pela manutenção do imóvel era do inquilino; já o Centro Paula Souza alegava que, por ser uma autarquia (entidade pública) não poderia custear obras em imóveis que não fossem de sua propriedade.

Surgiu o impasse.

Em consequência, paredes e colunas se deterioraram, o telhado chegou a desabar e, por falta de condições de segurança para alunos e funcionários, o prédio foi desocupado em 2018.

Desde então, a Santa Casa de Santos vinha realizando a limpeza do local.

Em 2021, a juíza Fernanda Menna Pinto Peres acatou pedido do Ministério Público e determinou que Estado, Prefeitura e Santa Casa elaborassem um projeto de restauro integral do conjunto arquitetônico, para ser aprovado ao Condepasa e Condephaat. A Santa Casa contratou o arqueólogo Manoel Gonzalez para avaliar os danos no local e o arquiteto Gustavo Nunes para o projeto de restauro.

Finalmente, as cenas dos próximos capítulos devem começar a ser apresentadas neste domingo (5).