Sala de Ideias

O Turismo sob um outro olhar é possível?

07/01/2022
O Turismo sob um outro olhar é possível? | Jornal da Orla

Selma Cabral

Não  basta curtir o destino, é preciso haver empatia, com o outro e o meio ambiente

Depois desses quase dois anos de pandemia em que tivemos muitas perdas, tanto de negócios, economia e, principalmente, de pessoas, marcados por uma clara divisão de poder, de status, entre ricos e pobres, será que aprendemos algo com tudo isso?

Como podemos pensar em viajar sem nos importarmos com as pessoas que vivem nas localidades, alguns destinos badalados, onde só frequentam celebridades e milionários, mas que quando olhamos para além dos resorts e praias lindíssimos, vemos pessoas vivendo em péssimas condições de higiene e saúde, e a maioria não se importa e nem vê, age como se fossem invisíveis.

E aí pensamos: mas o que eu tenho com isso? Só vim curtir, tirar umas fotos, postar nas redes sociais.

Mas, sim, nós temos tudo a ver com isso, isso se chama empatia, com o outro, com o meio ambiente, e o turismo precisa das pessoas e do meio ambiente, e os locais? Sim, lindíssimos, luxuosos, mas precisam de pessoas para nos atender e de um lugar paradisíaco para ser erguido. Sem isso não se faz turismo.

Precisa de equipamentos turísticos para proporcionar entretenimento, que, junto do meio ambiente, dos hotéis e das pessoas – nunca podemos esquecer das pessoas – fazem com que tudo funcione e quando chegamos ao local esteja tudo pronto para nos receber e proporcionar a diversão que fomos buscar.

E ninguém nunca se preocupa se o funcionário que nos serve iguarias caríssimas, a comida farta do buffet, ao menos tem um pouco de comida para dar à sua família, se na sua casa tem água… Não, não estamos nem aí porque só o que nos preocupa é o NOSSO LAZER, NOSSO PRAZER, divertimento, e depois voltamos para casa e continuamos a não nos importar.

Acho que o Turismo também precisa de um novo olhar, sabe, olhar para dentro, como dizem. Pensar e pesquisar se aquele resort maravilhoso, naquele lugar incrível traz realmente algum benefício para a comunidade que vive lá, distante de tanta beleza.

Sempre aprendi na faculdade que o turismo só é bom quando melhora a vida dos moradores, quando eles são inseridos no contexto e se beneficiam do turismo.

Já está mais do que na hora de pensarmos em como inserir as comunidades locais nos roteiros para que possam se sentir parte envolvida na atividade, entender que só têm a ganhar com o turismo, com a preservação do meio ambiente e cabe a nós, profissionais da área e empresas, nos empenharmos mais e entender esse novo momento.

As expectativas e o comportamento dos consumidores de maneira geral estão mudando, eles passaram a pesquisar e consumir produtos de empresas que tem uma preocupação e preservação do meio ambiente, que não poluem, que cuidam das pessoas de uma localidade e temos que acompanhar essas mudanças se quisermos trabalhar com o Turismo.

A inovação tecnológica também é um fator de impacto, pois as informações estão todas na palma da mão e em tempo real, e é preciso acompanhar toda essa evolução se não quisermos ficar para trás.

A informação e a educação vão fazer com que as pessoas entendam e passem a gostar do turismo. Elas vão procurar aprender uma nova profissão, se interessar em saber como ela pode ganhar com o turismo, que a sua vida também pode melhorar a partir da atividade turística, seja trabalhando em um hotel, em restaurante ou vendendo seu artesanato. E isso é melhorar a vida deles.

Não podemos nos esquecer que no auge da pandemia, com as praias fechadas, como o mar estava lindo azul, as areias limpinhas, só que não dá para deixar tudo fechado para sempre, né? Temos que aliar preservação com turismo e desenvolvimento e fazer com que seja benéfico para todos: moradores e turistas.

Selma Cabral é consultora de turismo e eventos, criadora da Turismo & Ideias e do projeto 40eMais

 

Selma Cabral