Colunas

O sonho dela era ser mãe de menina e ela gestou várias Antonelinhas

10/05/2025 Addriana Cutino
O sonho dela era ser mãe de menina e ela gestou várias Antonelinhas | Jornal da Orla

Se você é mãe e está lendo minha coluna hoje, sinta-se homenageada. De mãe para mãe, eu acredito que você pense como eu: biológica ou de criação – não importa – ser mãe é viver a mais bela e transformadora completude e plenitude. É sentir-se inteiramente preenchida de abundância, felicidade e harmonia. Mãe é mãe todos os dias, até o fim de sua existência e além. Então, sejamos gratas por tamanha benção. Por isso, deixo explícita minha gratidão ao meu filho: “Lucas, obrigada por existir e me ensinar tanto. Eu te amo.”

A maternidade não vem com receita ou manual mas nos traz irreversíveis transformações. Ainda bem! Por isso, eu decidi resgatar um brinquedo que pra muitas culturas tem outra simbologia, a boneca. Hoje, eu vou contar um exemplo de empreendedorismo materno, já ouviu falar? Ele acontece quando mulheres se tornam mães e decidem criar seu próprio negócio. Para a educadora Fabiana Almeida Souza não foi um negócio qualquer.

Durante a infância nós, mulheres, ganhamos alguma boneca de presente. Não importa se de pano, retalho de tecido, plástico ou outro material qualquer. Desde muito cedo, praticamos o instinto do cuidar. As mães africanas, escravizadas e trazidas em navios negreiros, rasgavam suas barras de saia pra fazer as Abayomis – bonecas que representavam o afeto materno, a esperança, a proteção e a resistência para confortar seus filhos diante do sofrimento.

A Fabiana criou outro tipo de boneca, com apelos emocionais semelhantes. A paixão pelo “brinquedo” nasceu, claro, na infância. “Brinquei de boneca até os treze anos e o meu sonho era ser mãe de uma menina. Papai do céu foi muito bom comigo. Em 2014 eu engravidei e em 2015 a Antonela nasceu. Na época eu era professora de Educação Infantil em Santos e professora de Educação Especial em Cubatão. A maternidade muda muita coisa em nossa vida. Muda o nosso jeito de pensar, de viver, de agir e a Antonela foi um divisor de águas, uma mudança bem profunda em mim”, explica.

Sucesso com a mudança de técnica

Depois que as reborns de tecido foram feitas, o reconhecimento foi maior. Os clientes elogiaram. “Aqui na Baixada eu fui uma das pioneiras da técnica e no final daquele ano eu lancei uma linha de bonecas bebês autorais. Tenho relatos de muitas mães que dizem que as filhas estão dormindo melhor porque deixam de usar o celular e dormem com a boneca”, conta.

Já são mais de 300 bonecas confeccionadas e elas têm nome. Desde a primeira, Fabiana as batizou de Antonela, homenagem à filha. “Quando termino uma boneca, eu digo a ela que nasceu mais uma Antonela. Ela começou a dormir no quarto dela com as bonecas. São mais de 56 ao redor dela. Então, é um elo que se criou entre mãe e filha.”, conta feliz. Além das feiras, as bonecas da Fabiana podem ser encontradas na página no Instagram
@antonelinhasbonecaria.

A boneca Waldorf

A pequena Antonela despertou uma paixão adormecida de Fabiana. “Quando ela nasceu eu voltei a fazer trabalhos manuais para as festas de aniversário dela. Passava o ano fazendo convites, decoração das mesas, lembrancinhas. Quando ela completou quatro anos, eu e meu marido decidimos matriculá-la numa escola que seguia uma pedagogia diferente, a Waldorf. Aliás é mais do que uma pedagogia”, conta.

A metodologia é considerada uma filosofia de vida criada em 1919, após a Primeira Guerra Mundial, pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, e baseada na antroposofia, ciência espiritual que busca compreender o ser humano e o universo além do materialismo. Por isso, a família dever ser totalmente presente e participativa no universo escolar.
Fabiana, então, se encantou por um trabalho manual comum nas escolas de ensino Waldorf: a técnica da feltragem com lã de carneiro natural penteada e tingida que utiliza uma agulha específica. “Eu fui fazer um curso em São Paulo e passei a vender algumas peças. Em 2020, enfrentávamos a pandemia e despertou em mim o desejo de fazer uma boneca Waldorf. Eu fiquei paquerando aquilo por dois meses, achando muito difícil. Pra piorar, não havia materiais para desenvolver a técnica aqui na Baixada. Comprei pela internet e a primeira boneca fiz inteiramente à mão. Demorei muito pra fazer. Lembro que a professora da Antonela me orientou a embalar a boneca numa manta e toda a vez que eu pegasse, desenrolava para associar a um gestação. A manta seria o útero”, explica.

A primeira boneca demorou muito pra ficar pronta. Fabiana conta que havia vários defeitos, mesmo assim deu de presente pra filha. Até que em 2022, a educadora fez outro curso sobre bonecas bebês. “Foi mais um divisor de águas na minha vida. Eram bonecas reborns com expressões faciais detalhadas só que feitas de pano e com a técnica de feltragem à seco. Elas são bonecas inspiradas na filosofia Waldorf. A diferença é que elas tem semelhança com o ser humano. Então a cabeça precisa ser redonda e rígida, precisa ter a profundidade dos olhos e nariz saltado. A riqueza de detalhes era muito maior.”