Luiz Ary Messina e Paulo Lopes
Há uma tendência de incorporarmos a telessaúde e outras tecnologias de forma a termos um modelo híbrido, uma assistência “figital”, que unirá, definitivamente, o físico e digital
A pandemia foi o fator determinante para a implementação da telemedicina no nosso dia a dia. Para nós, que já acompanhávamos o setor e ansiávamos por essa realidade há 20 anos, assistir a isso foi especialmente interessante. Enquanto nos cinco anos anteriores à pandemia em torno de 10 milhões de segundas opiniões foram realizadas em imagens e ECG no país, pelas instituições públicas, hospitais universitários e de ensino membros da RUTE, Rede Universitária de Telemedicina, coordenada pela RNP, em 2020 e 2021 houve um disparo completo de assistências à distância e a inserção durante a pandemia do setor privado de saúde. Ou seja, a efetividade da telemedicina foi finalmente aceita no ambiente de negócios.
E o melhor de tudo, é que, o que era algo temporário no início do período que estamos ainda vivendo, mas hoje já é visto como definitivo, com novas nuances e aprimoramentos. Há uma tendência de incorporarmos a telessaúde e outras tecnologias de forma a termos um modelo híbrido, uma assistência “figital”, que unirá, definitivamente, o físico e digital. E os resultados efetivos da prática da telemedicina e da telessaúde (ampliada à todas as profissões da saúde), principalmente durante a pandemia, tornaram-se indicadores claros de sua aplicabilidade nos próximos anos.
Há um grande potencial da tecnologia para trazer novas soluções para problemas antigos, mas que agora tem sustentabilidade para, de fato, solucionar os problemas em escala. E a tecnologia também traz novas formas de abordar as soluções e ainda transformar a saúde com inovações tecnológicas. Se tomarmos, por exemplo, a gestão como um elemento integrador dos processos da saúde, percebe-se claramente a inserção das TICs no aprimoramento dos processos.
O fato é que todas as tecnologias digitais podem, em maior ou menor grau, transformar a saúde. Sua incorporação depende, como em outras tecnologias de evidências técnico-científicas obtidas de processos de pesquisas científicas, e para a isto a RNP e seus parceiros na RUTE podem contribuir para aceleramos todas as prospecções de tecnologias que podem transformar a capacidade de formar Recursos Humanos para uma Prática Digital da Saúde, novos serviços para a comunidade de Ensino e Pesquisa em Saúde e a estabelecermos um novo conhecimento sobre uma nova Saúde Digital, acessível à população. Em 2020 a RUTE foi reconhecida pela OMS Organização Mundial da Saúde como exemplo no documento
Por isso, mais do que nunca, todos os profissionais da saúde (se ainda não foram) serão envolvidos na prática digital da saúde e, portanto, o que se recomenda é uma atenção ainda maior com a formação e a capacitação desses profissionais, de tal forma a habilitá-los no ambiente virtual, que naturalmente vai exigir novas competências (conhecimentos, habilidades, atitudes e valor), pela própria evolução dos novos conhecimentos e quantidades de informações disponíveis hoje em rede.
A atualização de competências é essencial para estar preparado para uma prática digital de saúde, que envolve a Telessaúde e outros Serviços viabilizados por tecnologias de Informação, comunicação, processamento e armazenamentos digitais – IA, Big Data, Sensores, Atuadores, Internet das Coisas IoT, Realidade Virtual, Realidade Aumentada, Metaversos, etc. Ter conhecimento, habilidades e atitudes diante desta transformação digital é fundamental para uma prática digital de saúde ética, segura e de qualidade para a população.
Para 2022, o que vemos é um fortalecimento da transformação da saúde viabilizada pela saúde digital: ampliando o acesso à saúde e a universalização, a sustentabilidade e novos mercados e investimentos na saúde. O que gostaríamos, assim como todos nesse país, é que isso se estenda principalmente para a saúde pública, e ao nosso SUS. Teremos ainda a publicação do primeiro relatório de prospecção tecnológica em saúde digital, coordenado pelo Comitê Técnico de Saúde Digital da RNP, e que deve orientar o desenvolvimento de novos serviços para a comunidade de Saúde e as unidades da RUTE e gerar propostas de projetos para o novo Programa Prioritário de Informática em Saúde Digital coordenado pela RNP.
Certamente, também veremos a Telessaúde e Inteligência Artificial atuando juntas, onde a IA se beneficia naturalmente de um processo assistência digital como é a telessaúde, e a telessaúde se beneficia de vários produtos do planejamento, passando pela apoio à tomada de decisão e o tratamento proporcionado pelos resultados da IA. Assim como a telessaúde, a IA será passo-a-passo incorporada às atividades da saúde, na prevenção, diagnóstico e tratamento.
O fato é que os profissionais, cidadãos, e a própria sociedade estão se preparando ao longo desse tempo para o uso sustentável da tecnologia diante da necessidade de soluções de problemas antigos e novos. Agora é só aproveitar as inovações, onde todos se beneficiarão.
*Luiz Ary Messina é coordenador nacional da Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms). Engenheiro Eletrônico, graduado pela Universidade de Brasília. Mestre em Banco de Dados pela Unicamp, Campinas. Doutor em Computação Gráfica pela Technische Universitaet Darmstadt, Alemanha. Coordenador do Projeto T@lemed Telediagnóstico por imagem do Programa @lis da União Européia e de outros projetos internacionais da União Europeia. Atuou ainda como Gerente de TIC da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do ES, entre 2004 e 2006. Membro do eTAG eHealth Technical Advisory, Grupo Rede e Capacitação, Organização Mundial da Saúde OMS, 2013-2019.
*Paulo Lopes é Doutor em Ciências, pelo Programa de Pós-graduação em Gestão e Informática em Saúde da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp (2013); Mestre em Ciências em Reatores Nucleares de Potência e Tecnologia do Combustível Nuclear (1995). Engenheiro Eletrônico formado pela Faculdade de Engenharia Industrial – FEI (1988).
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