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Mães… avós… mais do mesmo?

10/05/2025 Ivani Cardoso
Mães… avós… mais do mesmo? | Jornal da Orla

“Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas
as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que
vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis”
Rachel de Queiroz

Netos são novas memória e reencontros de muitas que tivemos como mães. Nunca fui como aquelas mulheres desesperadas por ter um neto. Minha filha até brincava, dizendo que eu não queria só para não me sentir velha. Sempre acreditei que tudo chega na hora certa. E foi assim: quando meu filho e minha nora deram a notícia, foi maravilhoso.

Depois que a Helena nasceu, parece que a vida ficou mais colorida. Lia e inventava contos, comprava livros, fazia teatrinho, me arrastava no chão com ela (isso já não dá mais) e aproveitava cada instante. Durante a pandemia, criei até um podcast de histórias para matar a saudade. É um amar mais descontraído, sem deveres e cobranças.
Quando veio a Júlia, confesso que tive aquele medo bobo: “Será que vou amá-la tanto quanto a Helena?” Mas é claro que sim. O amor por um neto nasce antes mesmo do nascimento, como acontece com os filhos. Sempre fico surpresa quando ouço alguém dizer que ama mais os netos do que os filhos. Besteira. São amores diferentes, incomparáveis.

Netos trazem perguntas inesperadas, comentários hilários, uma curiosidade sem fim sobre a sua vida. Quando as duas estão comigo, é uma mistura de alegria e tensão, fazendo o possível para que tudo corra bem. Júlia vive dizendo que sou preocupada demais — e ela tem razão. Avós não querem ver os netos sofrerem, chorarem, se machucarem.

Há avós que liberam tudo, inclusive o que nunca deixaram os filhos fazer, e há os mais comedidos. Eu tento seguir o caminho do meio — aprendi isso na yoga e trouxe para a vida. Mas confesso: permito que Helena fique no meu computador, catando milho. Outro dia, deixou um pequeno conto ali, e meu coração se encheu de orgulho.

Acho bonito ver avós passeando com os netos, levando na escola, conversando num banco de jardim à beira-mar. Essa troca ameniza a passagem do tempo e renova as esperanças. É um recomeçar mais leve, embalado com afeto. E se der vontade de fazer algo inesperado, faça. Já me vesti de bruxa para encenar uma peça no aniversário da Helena. Elas também me lembram a mãe que eu fui um dia.

Termino com uma frase de Rachel de Queiroz, em A Arte de Ser Avó, também para quem tem sobrinhos netos ou afilhados que desempenham o mesmo papel: “Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente, lhe caem do céu”.

Dicas de filmes

Central do Brasil (1998) (Netflix)


Dora não é avó biológica, mas acolhe Josué, um menino de nove anos que perde a mãe. Juntos, embarcam em
uma tocante jornada em busca do pai do garoto.

Pequena Miss Sunshine (2006)


Um delicado retrato do vínculo entre o avô (Alan Arkin) e a neta Olive (Abigail Breslin), que sonha participar de um concurso de beleza infantil. Uma aventura intensa e cheia de amor familiar.

As Bicicletas de Belleville (2003) (Prime Video)


Nesta animação francesa, uma avó determinada enfrenta tudo para resgatar seu neto Champion, sequestrado durante uma competição.