Longevidade

Lesado pela reforma de 94 e pelo novo golpe contra os aposentados

26/04/2025 Alceu Nader
Lesado pela reforma de 94 e pelo novo golpe contra os aposentados | Jornal da Orla

O editor de Longevidade Alceu Nader fala sobre a própria experiência com o golpe recém-descoberto contra os aposentados e pensionistas do INSS: os descontos indevidos

Na última quarta-feira, um novo escândalo sacudiu o Brasil. A operação “Sem desconto” da Polícia Federal e da Controladoria Geral da União, juntas, prendeu cinco altos funcionários do INSS e um policial federal e fez 211 operações de busca e apreensão em treze estados.

A “Sem desconto” desbaratou um esquema que, desde 2019, subtraiu pelo menos R$ 6,3 bilhões. Os espertalhões, com livre acesso às informações da Previdência Social, fizeram cobranças indevidas, falsificaram assinaturas e cobraram por serviços não prestados. O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido no mesmo dia à tarde.

Dos cinco investigados presos, quatro eram da alta diretoria do INSS. A oposição raivosa quer abrir uma CPI e o governo, que se diz dos trabalhadores, quer evitá-la a qualquer custo.
Eu sou mais um das dezenas de milhões de aposentados roubados. Descobri que estava sendo surrupiado por acaso, ao ter de consultar meu extrato do INSS para refazer os cálculos do meu processo de revisão da vida toda – outro assalto às minhas contas pessoais, cometido em 1994, quando a reforma da Previdência daquele ano garfou contribuições que fiz compulsoriamente durante 20 anos.

Extrato? Onde?
Chegar ao extrato do INSS não é pra qualquer um. Milhões de idosos pouco afeitos à internet não conseguem acessar o documento. Durante meses seguidos, os salafrários descontaram R$ 72,00 dos meus vencimentos em benefício de uma instituição disfarçada sob a sigla CENAP-ASA.

Indignado com um governo que, apesar da troca de presidente a cada quatro anos, sempre vê o aposentado como vilão do “déficit da Previdência”, usei minha paciência de repórter para saber que diabos era CENAP-ASA. Descubro que seu verdadeiro nome é “Casa da Vó Marieta”, com sede em Aldeota, Fortaleza (CE). Fuçando um pouco mais na rede, descubro que Vó Marieta tinha um site com um número 0800 para informações. Tentei falar com os maganos durante dois dias seguidos. Depois de 20 minutos de telefone chamando, a secretária eletrônica pedia para ligar novamente. Rastreei todo o site e um detalhe mostrou que se tratava de picaretagem explícita: toda a área de “Notícias”, era ilustrada com moças bonitas de biquini aproveitando as delícias dos “melhores cassinos ao redor do mundo”.

Foi como tomar um tapa na cara. Furioso, pensando em não descarregar minha ira sobre a atendente, disquei o 135 do INSS para registrar queixa. Ilusão à toa. Durante três dias dias, liguei seguidas vezes para o serviço, mas, depois de 15 a 20 minutos de espera, uma gravação me avisava que “o sistema está inoperante”.

Não é de hoje que está tudo inoperante na Previdência. Bem disse o senador Paulo Paim, em entrevista ao Jornal da Orla, que o sistema previdenciário brasileiro é superavitário e que o mais urgente era acabar com a “roubalheira”, que fossem reduzidas as isenções e que privilegiados deixassem de receber pequenas fortunas todos os meses. Mas nada acontece: entra mês, saí mês é só bordoada no aposentado. n