Longevidade

Idosos são as vítimas preferenciais dos golpistas eletrônicos no Brasil

03/05/2025 Alceu Nader
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O avanço da tecnologia trouxe comodidade, mas também abriu caminho para a atuação de criminosos virtuais — e os idosos estão entre os alvos preferenciais. Dados do Disque 100, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, revelam que mais da metade das 74,2 mil denúncias de violação patrimonial feitas em 2023 envolveram vítimas com mais de 60 anos. Ao todo, foram 43,6 mil casos, evidenciando a vulnerabilidade dessa faixa etária diante dos golpes digitais.

Na Baixada Santista, o cenário preocupa. Em Santos, por exemplo, mais de 110 mil pessoas têm mais de 50 anos, representando cerca de um quarto da população. A combinação entre envelhecimento populacional, uso crescente da internet e falta de familiaridade com práticas digitais seguras transforma a região em campo fértil para os golpistas.

Cidades vizinhas como São Vicente, Praia Grande e Cubatão também acompanham o envelhecimento da população e apresentam demandas crescentes por educação digital voltada à terceira idade. Segundo dados do IBGE, a Baixada tem uma das maiores concentrações de idosos do Estado de São Paulo, o que exige atenção especial das autoridades públicas, bancos e instituições de apoio ao idoso. Prova disso é o aumento de registros em delegacias da região — especialmente nas Delegacias de Proteção ao Idoso, onde são comuns relatos de estelionato e fraudes bancárias.

A edição mais recente da pesquisa Radar Febraban reforça a tendência nacional de crescimento dessa modalidade de crime. De setembro de 2024 a março de 2025, a proporção de pessoas que afirmaram ter sofrido golpes ou tentativas subiu de 33% para 38%. Os idosos aparecem entre os mais suscetíveis: 42% dos entrevistados com 60 anos ou mais relataram ter sido alvo. Homens e pessoas com ensino superior também estão entre os mais visados.

Os tipos de golpe são variados, mas têm em comum o uso da engenharia social, ou seja, da manipulação psicológica para enganar a vítima. Falsos contatos bancários, links enviados por aplicativos de mensagens e falsas promoções são algumas das armadilhas mais recorrentes. A clonagem de WhatsApp e o golpe do falso motoboy — no qual o golpista se passa por funcionário do banco e recolhe cartões — também continuam em alta.

A orientação de especialistas é clara: informação é a principal arma contra esses crimes. Órgãos como a Polícia Civil, o Procon e instituições bancárias vêm promovendo ações educativas na região, mas ainda é preciso ampliar o alcance dessas campanhas. Também se recomenda atenção com dispositivos conectados à internet, como as “caixinhas” que liberam canais pagos.

Os 5 golpes mais comuns segundo a Febraban

1º Golpe: WhatsApp
Como acontece: o golpista descobre seu número do celular em outra rede social, como Facebook, Instagram ou Linkedin. Ele pretende cadastrar seu WhatsApp no aparelho dele. Para isso, do código de segurança que o aplicativo envia por SMS sempre que é instalado em um novo aparelho. Em geral, o falsário se apresenta como alguém do Serviço de Atendimento ao Cliente de um site de vendas ou de empresa onde você tem cadastro. Ele vai dizer que precisa do código de segurança para atualizar ou protocolar, ou ainda manter ou confirmar o cadastro. Tudo mentira.
Como escapar: uma medida simples para evitar que o WhatsApp seja clonado é habilitar, no próprio aplicativo, a opção “Verificação em duas etapas”. Desta forma, é possível cadastrar uma senha que será solicitada periodicamente pelo aplicativo funcionar. Essa senha nunca deverá ser enviada nem digitada.

2º Golpe: Venda Falsa
Como acontece: As quadrilhas mandam páginas falsas de lojas digitais famosas por e-mail, SMS ou WhatsApp com um link.
Como escapar: Não bobear. Ele vai tentar te atrair com um preço irreal de qualquer tipo de “mercadoria” por um valor até três vezes menor e vai insistir para você “pegar ou largar”. A fraude fica evidente nas poucas opções de pagamento, em geral com uma entrada alta em elação ao preço fixado. Importante: nunca clicar em links de e-mails, nem em mensagens do SMS.

3º Golpe: Falsa Central Telefônica / Falso Funcionário
Como acontece: o golpista se apresenta como funcionário do banco ou de empresa com que você mantém relacionamento ativo, e que tem seu cadastro completa. O criminoso inventa que há irregularidades na conta ou que os dados cadastrados estão incorretos, e pede o que ele pretende: seus dados pessoais e financeiros. Ele também pode pedir transferências, alegando a necessidade de regularizar problemas na sua conta ou cartão.
Como escapar: Sempre verificar a origem das ligações e mensagens recebidas que pedem seus dados. Não é verdadeira a mensagem de que os bancos nunca entram em contato com seus clientes. Entram, sim, quando identificam transações suspeitas na conta ou no cartão. Nunca se deve enviar dados pessoais, senhas, chaves de segurança etc. Outro golpe dessa categoria é o pedido para que o cliente faça transferências ou pagamentos pendentes, alegando estornos de transações. É golpe! O cliente deve desligar, e, se possível de outro aparelho, entrar em contato com os canais oficiais de seu banco.

4º Golpe: Phishing (pescaria digital)
Como acontece: O phishing também quer seus dados pessoais, para aplicar outros golpes ou vendê-los no mercado do crime organizado. A abordagem costuma ser por e-mail falso ou escondido nas mensagens. Ele dirá que você é a pessoa mais sortuda do mundo, porque foi escolhida para receber um empréstimo com juros de pai para filho, ou que somente você foi o escolhido para ter aquela mercadoria de grife por uma bagatela, ou ainda que foi sorteado para um prêmio maravilhoso. É tudo enganação! Essas mensagens também aparecem com frequência nas redes sociais.
Como escapar: A primeira é mais importante dica é nunca clicar, em tempo algum, seja qual for o pretexto ou
a oferta do golpista. Para evitar cair na arapuca, também se recomenda estar com o sistema operacional e o programa antivírus atualizado. Se for uma oferta bancária, a dica de ouro é falar com seu banco.

5º Golpe: Falso Investimento
Como acontece: O golpista enche as redes sociais com propaganda enganosa, que levam para páginas da internet falsas. Ele promete dinheiro rápido mediante um investimento altamente lucrativo, ou pede uma taxa para que você veja quanto vai receber do governo por algum benefício ou pagamento indevido. Ou outra desculpa qualquer. É tudo invenção do criminoso, que insistirá mais de uma vez para a “oportunidade”. Em alguns casos, para criar credibilidade, ele pede um investimento inicial pequeno. Em outros, chega a pagar algum valor. Mas logo pedirá investimento mais alto. Quando conseguir, vira fumaça.
Como escapar: Questione sempre. Cheque a reputação da empresa que ele diz representar. Veja se ela é autorizada a operar no mercado. A ordem é desconfiar sempre. O escritor Guimarães Rosa já ensinou: “quem desconfia fica sábio”.