A Ferrovia Interna do Porto de Santos completou um ano do início de suas atividades.
Quem não conhece a história recente desse complexo portuário, o mais importante do Brasil, não faz ideia do que a FIPS representa.
Comecei a trabalhar no Porto de Santos em 1994, como Conferentes de Carga e Descarga.
A expectativa era enorme, pois essa profissão era reputada como uma das mais bem remuneradas do cais santista. Mas, a frustração veio logo, pois só éramos escalados para o que sobrava da “parede” dos mais antigos.
Um de meus primeiros trabalhos foi como lingadeiro de uma operação de descarga de trigo para vagões.
O calvário começou com uma manobra de guindastes, mas antes foi preciso encontrarem um que estivesse funcionando (depois da Lei 8.630/1993, a CODESP ainda era responsável pela maioria das operações). Depois, foi a vez do posicionamento do funil de descarga: “Cuidado com o balanço!”.
Finalmente, veio um trator, que faria a manobra para posicionamento dos vagões sob o funil. Havia uns oito engatados, todos do tipo “fechado”, com portas laterais e alçapões na parte superior (os vagões tipo “hopper” eram raros). Porém, antes da manobra, um sujeito começou a inspecionar os vagões. Recusou seis deles!
Os dois que sobraram foram manobrados até o funil “casar” com o alçapão, e a descarga foi iniciada.
O funil entupia com frequência, e para retomar o fluxo era com marretadas: alta tecnologia.
O serviço deu “salário”, e olhe lá… E ficou a percepção de que trabalhar com vagões não era producente.
A criação da Portofer melhorou bastante as operações, e iniciativas passaram a ser adotadas para ampliar a participação do modo ferroviário na matriz de transportes do Porto de Santos. Mas era preciso mais, pois as renovações de concessões ferroviárias projetavam duplicação da capacidade de movimentação. Os terminais também estavam sendo ampliados.
Surgiu a ideia de criar um modelo de concessão que viabilizasse todos os investimentos necessários para eliminação de conflitos, melhoria e expansão da malha ferroviária para atender a demanda crescente, agora acrescida da operação de celulose. Seria uma espécie de condomínio, prevendo a participação de vários interessados e garantias diversas, para assegurar atendimento isonômico a todos os terminais e operadores ferroviários: um modelo inédito no Brasil, configurando um desafio e tanto!
Após análises, reanálises, ajustes e aprovação em várias instâncias institucionais, foi promovida a licitação, finda a qual a FIPS foi efetivamente constituída, já compromissada com uma significativa carteira de obras, que incluía: viadutos, pontes, passarelas de pedestres, centro de operações e obras nas vias permanentes e adjacências.
A rapidez com que a equipe foi montada só é comparável com a excelência dos profissionais alocados, alguns já velhos conhecidos do porto, cuja competência era mais do que reconhecida.
Porém, a FIPS é um elo da cadeia logística, fundamental conexão entre as ferrovias que se conectam ao Porto de Santos e os terminais que nele operam. Considerando que as concessões ferroviárias já estavam equacionadas, também era preciso que os terminais se adequassem aos cenários previstos.
Nesse sentido, a FIPS tem sido um tenaz indutora desse processo, obtendo resultados expressivos num curto espaço de tempo, e acenando com horizontes audaciosos.
Imaginem quando o Ferroanel entrar no escopo!
Parabéns à toda a equipe de colaboradores da FIPS! Que esse sucesso seja multiplicado, pois ele também será do Porto de Santos, das cidades que o sediam e da economia brasileira!
Adilson Luiz Gonçalves
Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras
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