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Ficar ou partir? Eis a questão

05/05/2025 Hudson Carvalho
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Se vocês estão lendo esse texto, é ‘culpa’ do meu genro. Já tinha tudo pronto para falar de outro assunto. Não o culpem. Ótimo rapaz, educado, de ótima família. Capacitado, brilhante, essa foi a razão de sua ligação, já meio fora de hora. Recebeu proposta de trabalho em outra empresa.

Tem que responder em curtíssimo prazo. Vaga do melhor tipo: as que não são anunciadas. A ex-chefe o convidou para o processo de seleção. E ele passou. Salário maior, benefícios nem tanto, mas o conjunto compensa. O cargo, superior ao seu atual, numa empresa de maior porte daquela onde hoje trabalha.

Ora, por que o dilema? Aceite! Não é tão simples. O atual empregador também é boa empresa, onde ele vem crescendo – e está às vésperas de um ciclo de avaliação de desempenho, onde tudo indica que irá bem e pode ser promovido.

Já não está tão simples. O tempo é curto, as variáveis, muitas.

Vamos começar pelas fáceis de avaliar: remuneração. É algo que varia demais, dependendo da carreira, se a vaga é para o mesmo cargo que se possui – ou acima, da região do País e até do comportamento economia.

As ofertas para uma mudança com promoção girarem torno de 20%. É um número que o mercado aceita. Vale inclusive para você que pensa em trocar de emprego, na hora em que surgir a fatídica pergunta: “Qual a sua pretensão salarial?” Mas, nem tudo se resume a números. É importante avaliar se a empresa proponente oferece condições de crescimento e se – quem lá trabalha- entende que há um bom ambiente de trabalho.

O LinkedIn oferece informações interessantes se você tiver paciência de ler perfis de seus futuros colegas. Quanto tempo trabalham por lá, quanto tempo permanecem em cada posição, o tipo de posts que fazem. Tendo avaliado o futuro empregador, é preciso planejar como conduzir a conversa com o atual gestor, sempre em particular e na primeira hora do dia. Assim ele terá tempo de reagir, falar com seu superior, com o RH e todos os que poderão ajudá-lo a lhe dar uma resposta.

A primeira pergunta a fazer a si próprio é: Eu pretendo sair de verdade, ou vou usar o convite para forçar uma promoção? Cuidado! Há consequências. Seu chefe dificilmente esquecerá que um dia você o colocou em posição de ter que resolver o problema de sua eventual saída. Para ele esse momento pode soar como uma mácula no seu perfil, afinal, ele “está sendo trocado por outro’. Nem todos conseguem deixar de considerar isso como algo pessoal.

Se sua decisão de sair está tomada, simplesmente comunique. Agradeça a oportunidade de ter trabalhado na empresa, informe a data de saída e pronto. Sair de qualquer lugar deixando as portas abertas, faz toda a diferença e,… o mundo dá voltas, não é?

Se pretende um blefe, mais cuidado ainda. A resposta pode ser: “siga o seu caminho.” E você terá que seguir. A maioria dos bons profissionais que conheci – eu próprio já estive nessa condição mais de uma vez – optaram pela primeira opção. Por que? Porque, mesmo que a atual empresa cubra a proposta, promova-o, sempre ficará em nossa cabeça a seguinte pergunta: Se podiam me reconhecer, por que não fizeram antes?”.

Então, repito, pense bem no caminho que pretende tomar. Há algo a ser evitado a todo custo. Algo que depõe sobre sua conduta profissional: fazer leilão, como se diz na gíria. Significa receber uma oferta, levar ao atual empregador, receber contra proposta melhor e voltar à empresa proponente tentando aumentar a oferta inicial. Não pega bem. Você seria mau visto nas duas organizações. Péssimo negócio.