Em busca de um sonho, bailarina da Praia Grande ganha bolsa para dançar na Itália
13/05/2022A bailarina Giovanna Santoro -moradora de Praia Grande (SP) – conquistou duas bolsas para estudar na Cia Opus Ballet, em Florença, na Itália. Para conseguir permanecer no país europeu durante os três anos de curso, ela realiza campanha de financiamento (https://www.vakinha.com.br/2827140), além de rifas e venda de doces nos semáforos de Santos. Em entrevista ao Jornal da Orla, ela conta como foi início da carreira no Balé e o sonho de estudar na Itália.
Giovanna começou cedo na dança, como atividade extracurricular, aos 3 anos iniciou no ballet apenas pela questão de se movimentar. Sua mãe, Maria de Fátima, sempre acreditou que as filhas deveriam fazer alguma atividade física para não ficarem paradas em casa.
“Eu fazia todas as atividades extracurriculares que tinha. Quando eu mudei de unidade da escola, aos 6 anos, eu parei de fazer ballet, mas continuei fazendo aulas de dança. Aos 12, minha mãe me colocou numa escola de dança e eu comecei fazendo jazz, mas como eu via as aulas de ballet quando passava pelos corredores eu comecei a sentir uma grande vontade de voltar a fazer aulas de ballet”, afirma Giovanna.
Maria de Fátima explica que sempre incentivou as filhas a fazerem atividade física e também à leitura. “Tinham que ler ‘O Pequeno Príncipe’ e fazer uma atividade física, não necessariamente o ballet”, ela comenta em bom humor.
“A gente achava bonitinho ela dançando e todo mundo dizia que ela tinha jeito, mas a gente sabe que não tem como ter certeza de nada aos 3 anos de idade. Aí ela começou a chegar em casa reclamando até o dia que falou ‘papai, não quero mais’ – sempre era papai”, conta Maria de Fátima, lembrando da relação que o pai tinha com as filhas que, segundo ela, fazia tudo o que as meninas pediam.
Após sair do ballet, Giovanna ainda fez natação, caratê e futsal (neste, sob supervisão da irmã mais velha que cursava educação física).
O retorno de Giovanna para o ballet só ocorreu graças à um professor da escola que insistia pelo retorno da menina para as aulas, só que, com a morte do pai, as coisas ficaram apertadas na casa e a mãe não tinha condições de assumir o custo das aulas. Foi então que, um ano depois (aos 13 de Giovanna), o professor presenteou a menina com uma bolsa, o que possibilitou ela prosseguir em seu sonho.
Giovanna também praticou diversas outras modalidades de dança como jazz, ballet contemporâneo e até mesmo o hip-hop. Segundo ela, é importantíssimo que uma bailarina tenha um grande repertório de movimentos para usar no palco. “Atualmente, para você ser um bailarino profissional, quanto mais versátil você for melhor. Porque as vezes pode dar uma louca no coreógrafo e ele montar uma proposta muito diferente. Aí quem já tem uma experiência com outras modalidades vai ter uma vantagem na hora de interpretar uma música”, afirma a bailarina.
A mãe destaca os esforços necessários para ajudar a filha na realização do seu sonho e as diversas dificuldades financeiras que passaram. “É muito caro manter o ballet. Eu ouvia muito que ‘filho de pobre não pode ser bailarino’ e eu tinha que aguentar isso para não destruir o sonho da minha filha. Quando a Giovanna começou a ganhar festivais e conquistar vagas para realizar cursos em outros países nós começamos a selecionar porque não era possível ir em todos” comenta.
Giovanna chegou a ganhar bolsas para outros lugares, incluindo uma espécie de internato para bailarinos nos Estados Unidos, entretanto seu sonho era dançar na Europa, mais precisamente na Itália por ter uma ascendência italiana e a oportunidade pareceu ter caído em seu colo. Durante o período de isolamento, em 2021, Giovanna estava mexendo no Instagram quando viu uma propaganda de um curso em São Paulo que tinha audições para outros países, entre eles, a Itália.
“Eu falei ‘mãe, quero estar nesse curso em 2022’, mas as inscrições só começariam em agosto de 2021. Então eu acompanhei todos os dias as atualizações deles até que em julho eles abriram uma lista de espera para alertar quando estivesse próximo da inscrição. Em agosto as inscrições começaram as 4 da manhã só que tinha um, porém… Tinha que dar um sinal de 300 reais”, conta Giovanna.
A bailarina acordou a mãe no meio da madrugada para avisar sobre o sinal e, mais uma vez, ela fez um sacrifício para ajudar o sonho da filha. “Eu peguei um dinheiro que estava lá para pagar alguma outra conta e falei para ela ‘vai lá e faz o pix, filha’ e depois a gente deu um jeito de pagar essa conta, atrasamos, mas não deixamos de pagar”, afirma Maria de Fátima.
Para se preparar para o curso e para as audições, Giovanna foi para o Rio de Janeiro fazer um curso de uma semana onde teve aulas com Ana Botafogo e Ana Palmieri. No curso, ela concorreu com cerca de 200 pessoas na audição para a Itália e foi agraciada com as bolsas mais altas dentre todos os concorrentes. “Eu achei que não tinha sido notada porque na minha bateria acabei ficando no canto e mais para trás, mas dei meu melhor. No outro dia, a diretora da Opus, me reconheceu e perguntou meu número na audição, nós conversamos um tempo, ela pediu meu e-mail e nome completo e anotou num caderno. No último dia do curso, nós (os alunos) fomos nos despedir dos professores estrangeiros e ela disse que esperava me ver de novo”, atesta, a bailarina.
O resultado chegou apenas um mês depois, entretanto, a mãe já havia corrido – contando que a filha iria ser aceita – e arrumado uma professora de italiano para Giovanna. Agora com o resultado em mãos, começa a corrida para realizar o sonho. “Eu achei que não tinha sido vista, descobri que a diretora dava aula de moderno, que é uma vertente que eu não gostava muito. No fim, toda a energia que eu mandei para o universo durante meus treinos que eu pensava “vou pra Itália”, me ajudou muito”, finaliza.
Confira a entrevista completa abaixo