
É tempo de renascermos, de perdoarmos quem nos feriu e, pra muitos, o próprio passado. É tempo de alimentarmos o que verdadeiramente importa na vida e pra vivermos, nos basta o essencial. A semana santa para os cristãos representa a renovação e eu não poderia deixar de trazer pra você – que me dá a honra de ser um apreciador da minha coluna – uma grande história de empreendedorismo regada de amor, propósito e doação.
Se você fizer uma pesquisa simples sobre missão de alma vai encontrar a seguinte explicação: “É o propósito mais profundo de uma pessoa, vai além dos objetivos materiais e temporários. É o caminho que cada um veio cumprir pra evoluir e ajudar a humanidade.” É assim que eu defino o amor pela gastronomia de um dos chefes de cozinha mais talentosos da nossa região.
Hélio Marques Jr. tem 42 anos e uma trajetória inspiradora. Foi premiado como Revelação pela Revista Veja, vencedor do Prêmio Hospitalidade Italiana e do programa Food Truck, a Batalha – um reality do canal GNT –, finalista no Sabor de São Paulo – Prazeres da Mesa e colecionador de grandes eventos: Fórmula 1, Salão do Automóvel, São Paulo Fashion Week, Terraço Daslu, Bovespa e até para autoridades como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Atualmente comanda três restaurantes, um em São Vicente e outros dois em Santos e chegou ao sucesso começando literalmente do zero, mas com uma bagagem cheia de conhecimentos e oportunidades. Hélio misturou ao seu dom, fartas pitadas de experiências até montar seu primeiro restaurante.
Vida simples e bem temperada
Helinho, como muitos amigos o chamam, tem um jeito único de elaborar seus pratos, traz como assinatura a culinária ítalo-caiçara e transforma cada criação em uma experiência sensorial. Uma característica que herdou da avó, com quem aprendeu a cozinhar aos nove anos de idade.
Sem a presença da mãe e tendo um pai muito trabalhador, Hélio vivia colado na cozinha apreciando a culinária afetiva da avó. Muitos dos pratos à base de peixe. A família, autêntica caiçara, sempre amou a pesca. Mas o menino que foi crescendo e preparando sua própria comida também aprendeu muito com o pai que, nas horas de folga, amava ir para a cozinha e preparar as refeições da família. “Meu pai é um ótimo cozinheiro”, conta.
O tempo foi passando e o amor pela gastronomia crescendo. Um dos hobbys do chefe de cozinha é o surf. E entre tantas viagens com amigos em busca das melhores ondas, Helio abraçava a missão de cozinhar pra galera. “Eu tentei me enganar fazendo outros trabalhos até que chegou uma hora que eu comecei a cozinhar profissionalmente. Comecei com serviço de buffet em São Vicente pra ver como era. Um belo dia, à convite de um ex-cunhado, preparei um buffet e conheci o chefe de cozinha paulista Marcelo Gussoni. Ele foi meu mestre na cozinha. Eu aprendi tudo com ele. Fui fazendo megaeventos e festas da alta sociedade e aprimorando a parte de buffet.”, explica.
De São Vicente para os melhores restaurantes paulistas
O próximo desafio de Hélio foi se especializar na culinária à la carte. Ele aprendeu muito em São Paulo onde teve passagem por cozinhas italianas e pelo tradicional e famoso Restaurante Fasano.
Ao enxergar uma oportunidade, Hélio voltou para a Baixada Santista e foi trabalhar no Restaurante Lyon que funcionava na, hoje gastronômica, Rua Tolentino Filgueiras no Gonzaga, em Santos. O estabelecimento era considerado um dos melhores da cidade. Foi onde Hélio conquistou o prêmio da Revista Veja, o reality Food Truck do canal GNT e foi finalista no Prazeres da Mesa, site que premia os melhores bares e restaurantes. Lá ele permaneceu por cinco anos até o fechamento do estabelecimento.
O conhecimento e a experiência ampliaram a atuação do chefe de cozinha na região. Ele passou a prestar serviços de consultoria e chefiava todo o setor de gastronomia da Casa Cinza que chegou a ter quatro unidades.
Dono do próprio negócio
O passo mais ousado e que levou o chefe de cozinha ainda mais ao sucesso foi trabalhar por conta própria e abrir o seu restaurante. Assim surgiu a primeira unidade do Lyon, em São Vicente. “Eu queria começar do zero, voltar para a minha cidade depois de cozinhar em vários lugares e virei empresário. O Lyon, na Avenida Prefeito José Monteiro em São Vicente, existe há quatro anos, virou referência na cidade por essa característica minha de misturar a cozinha italiana com a cozinha caiçara e deU muito certo.”, conta
Depois de três anos, Hélio Marques abriu a segunda unidade do Lyon, desta vez, no centro de Santos. Há seis meses, ele aceitou o convite pra ser sócio em um novo negócio e inaugurou um terceiro restaurante: o sofisticado Cacciucco, na Rua Dom Lara, também em Santos. O nome faz referência a um prato típico italiano, tradicional na região da Toscana, na Itália. Ele é um ensopado de pomodoro com frutos do mar e aromas de trufas negras, coberto com uma crocante massa folhada.
Para o chefe Hélio, o Cacciucco é um sonho realizado onde coloca em prática os grandes clássicos que aprendeu na carreira em cozinhas de importantes restaurantes de São Paulo.
E pra quem não dispensa uma sobremesa, atenção! Não peça a conta antes de degustar a cocada de pistache. Eu já provei e garanto que é divina.
O maior dos sonhos realizados
A maior conquista, segundo o próprio chefe Helio, foi abrir um restaurante-escola. Isso aconteceu no ano passado através de uma parceria com o CAMP Rio Branco, em São Vicente. “É onde posso ajudar quem precisa. Afinal, eu acho que cozinhar não é artigo de luxo. Isso não pode acontecer no Brasil, onde muita gente passa fome. O restaurante-escola foi uma luta que durou três anos. A primeira turma já se formou. Agora vamos para a segunda turma. Metade dos alunos da primeira turma eu consegui absorver nos meus restaurantes. Foi a oportunidade de emprego para eles. Alguns já não estão mais, agora atuam em outros restaurantes.”, explica.
Hélio Marques passou a ser um dos empresários mais queridos do setor gastronômico e eu termino essa coluna com uma declaração especial do chefe de cozinha: “A gastronomia salvou a minha vida, me ensinou a ter mais responsabilidade, a ser mais sério, a ter postura! É minha religião. Eu não vivo sem ela e de todos os prêmios que eu ganhei, o maior foi eu formar alunos e emgregá-los. Isso não tem preço! E melhor: ensiná-los sem cobrar, porque volto a repetir que cozinhar não pode ser artigo de luxo em nosso país.”
Deixe um comentário