Longevidade

Duas semanas após desmonte, saldo de fraude no INSS cresceu

10/05/2025 Alceu Nader
Duas semanas após desmonte, saldo de fraude no INSS cresceu | Jornal da Orla

Santos também foi afetada mas ainda não se sabe o percentual dos aposentados atingidos

Na última quarta-feira, completaram-se duas semanas do desmonte da fraude bilionária de descontos ilegais nas aposentadorias e benefícios pagos pelo INSS, revelada pela operação “Sem desconto”. A estimativa do total do dinheiro desviado para associações piratas cresceu. Desde 2019, segundo relatório da Polícia Federal (PF), os criminosos roubaram R$ 6,9 bilhões de parcas aposentadorias e pensões.

Santos e a região da Baixada Santista foram também atingidas.Em Santos, onde se concentra a maior parte de aposentados do INSS, havia 77.129 aposentados em 2019, que receberam R$ 2,013 bilhões em benefícios. Não se sabe, ainda, o percentual dos que perderam dinheiro no golpe em toda a região. Os mais atingidos são da zona rural, onde predominam o analfabetismo e a dificuldade de acesso à internet.

Os R$ 6,3 bilhões são apenas uma estimativa dos desvios dos últimos seis anos. Já se ventila no noticiário que o total auferido pelos criminosos pode chegar a R$ 10 bilhões. O caso continua sendo investigado pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) como crimes de corrupção (ativa e passiva), violação de sigilo funcional, falsificação de documento, organização criminosa e lavagem de dinheiro, envolvendo funcionários públicos, operadores e onze entidades e associações.

A cada dia, novas revelações renovam o espanto. Cadernos com anotações de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, operador da tramoia, incriminam toda a diretoria afastada do comando da autarquia, incluindo seu ex-presidente, Alessandro Stefanutto, homem de confiança de Antônio Carlos Luppi, demitido do cargo de ministro da Previdência, “a pedido”, dia 30 passado. Esta foi a segunda vez pela segunda vez que ele perde o cargo de ministro por suspeita de corrupção.

A divisão política entre os brasileiros logo deu origem a memes e postagens na internet, culpando Luiz Inácio Lula da Silva em seu terceiro mandato. Seu governo merece, sim, críticas pela falta de fiscalização, pela negligência, pela corrupção da cúpula do Ministério da Previdência Social e pelo imobilismo do presidente da República provocado pelo medo de perder os votos do PDT, do qual Luppi é presidente, no Congresso. Mas a verdade é que os descontos criminosos começaram no governo de Jair Bolsonaro e, testados com sucesso em 2019, cresceram e se multiplicaram nos dois primeiros anos de Lula como presidente. Não há inocentes nesse roteiro.

RESSARCIMENTO
O novo presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, anunciou para a próxima semana a apresentação de um plano para ressarcir os assegurados do INSS que foram lesados. Waller Júnior recomendou atenção redobrada contra novos golpes que já estão sendo praticados, prometendo agilidade na devolução do dinheiro roubado. “Peço para todos que não caiam em outros golpes, não assine nada, não abra link, não acredite em ninguém que esteja vendendo facilidade”, reforçou. “A devolução será feita via benefício, via conta do benefício. Nada de Pix, nada de depósito em conta e nada de sacar em banco”. A Justiça pedirá devolução do dinheiro surrupiado, mas uma boa parte deles já foi gasta em viagens, automóveis de luxo e obras de arte, entre outros.

O dinheiro será devolvido com recursos do Tesouro. Logo, a conta será paga por todos os contribuintes. Para se ter uma ideia do que essa dinheirama representa, dois exemplos. Um é o anúncio de investimentos de R$ 6 bilhões em infraestrutura para a próxima safra – portos, estradas, ferrovias, silos e terminais. Com o dinheiro do roubo, também poderiam ser construídas 430 novas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) de grande porte (Porte III), com capacidade para atender 450 pessoas por dia.