Spencer vai frustrar aquele que estava atrás de uma biografia tradicional sobre a vida da Princesa Diana
“Uma fábula de uma tragédia verdadeira”. São essas as palavras que o diretor Pablo Larraín começa o seu “Spencer”. A morte de Diana, a Princesa de Gales completa 25 anos agora em 2022. Lembro das imagens que passavam na televisão daquele trágico acidente no túnel e a comoção mundial com o falecimento da Princesa do Povo. Contado como se fosse uma fábula, não seguindo o caminho tradicional de uma cinebiografia, Spencer desmistifica o casamento de conto de fadas e resolve focar no desmoronamento da relação entre Diana e o príncipe Charles e na fragilidade que o casamento passava nos últimos momentos. Durante três dias, a princesa se sente presa, delira e bate de frente com as tradições do mundo ao seu redor abordado pelo filme com um ponto de vista corajoso, mas também extremamente maçante.
Spencer é um longa cujo título faz referência ao sobrenome de solteira de Diana. Se passando nos anos 1990, Diana passa o feriado do Natal com a família real na propriedade de Sandringham, em Norfolk, Reino Unido. Apesar das bebidas, brincadeiras e comidas que Diana já sabe o script da realeza, mas esse final de ano vai ser diferente. Após rumores de traição e de divórcio, a princesa se vê em um impasse quando percebe que seu casamento com Príncipe Charles já não está dando mais certo e nunca dará, já que o príncipe ama somente Camilla Parker Bowles, mesmo com os dois filhos, portanto ela decide o deixar. Após o pedido, Diana se vê atormentada pelo fantasma da ex-rainha Ana Bolena, também deixada de lado pelo marido. Spencer é apenas uma especulação do que pode ter acontecido durante esses turbulentos dias e noites de paparazzi rodeando sua vida que antecedem o Natal e os seguintes após seu pedido oficial de divórcio. O filme é dirigido pelo chileno Pablo Larraín, que já está se acostumando com biografias de personalidades públicas, tendo dirigido “Jackie” sobre a esposa do presidente assassinado John F. Kennedy. Aqui, Larraín continua desconstruindo seus protagonistas mas se diferencia de seus trabalhos anteriores por inserir o público 100% dentro da perspectiva de sua protagonista. Apesar de o espectador saber o fim desta história, Larraín opta por um curto recorte, porém preciso, de uma mulher e uma mãe repleta de afeto, não poupando de suas cicatrizes por tanto tempo escondidas e que a torna ainda mais humana hoje do que em seu tempo.
O roteiro de Steven Knight, que já fez coisas muito boas e outras muito ruins, se concentra não em grandes eventos, mas no que acontece entre eles, como as interações entre Diana e seus filhos, o cotidiano com o staff do castelo e sequencias que se passam inteiramente em sua cabeça. Porém, apesar deste olhar intimista, o filme é muito arrastado e maçante onde você fica com a impressão de que nada acontece. A decisão de criar um clímax forçado no terceiro ato também destoa completamente do tom apresentado por todo o filme.
Com uma forte ambientação fantasmagórica e completamente angustiante de se assistir, a fotografia de Claire Mathon reforça isso abusando de close-ups e câmera na mão, enquadrando o castelo e seus extensos corredores e salas como se fossem uma prisão.
Spencer faz um filme todo criado e executado em cima da atuação de Kristen Stewart e aqui ela brilha. Stewart tem o melhor papel de sua carreira e, assim como seu colega Robert Pattinson, ultrapassa em muito seu começo na polêmica franquia Crepúsculo. Sua atuação é cheia de vida e calor, contrastando com o castelo frio e claustrofóbico que representa as amarras da Família Real em Diana.
Spencer vai frustrar aquele que estava atrás de uma biografia tradicional sobre a vida da Princesa Diana, mas para aqueles que estão acostumados com a abordagem intimista e lenta na direção de Pablo Larraín e uma segura e marcante atuação de Kristen Stewart, não sairão decepcionados.
Curiosidade: O filme se chama “Spencer” devido ao sobrenome de solteira de Diana.
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