O auditório da Câmara de Santos ficou dividido, entre conservadores e progressistas
A audiência pública convocada para discutir soluções para o imóvel onde está o que restou do Colégio Escolástica Rosa acabou se tornando um embate político. O auditório da Câmara de Santos ficou dividido, entre conservadores e progressistas.
Na reunião, realizada na noite de quarta-feira (26), os militantes de direita defenderam que o local seja utilizado para sediar uma escola cívico-militar ou uma base de cursos para policiais militares. Já os ativistas de esquerda, entre eles muitos educadores, preferem que o prédio receba um Instituto Técnico Federal.
Foi o maior fuzuê. O vereador Paulo Myiasiro (Republicanos), que convocou a audiência, teve dificuldade para conduzir os trabalhos. Os presentes ao auditório Zeny de Sá Goulart exibiam cartazes e tentavam ganhar o debate, literalmente, no grito.
Apesar da apresentação de dados técnicos e problemas reais, o encontro terminou sem resultados práticos.
Presente ao encontro, o vice-presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio de Santos (Condepasa), o arquiteto e urbanista Gustavo Nunes informou que o restauro completo do complexo está estimado em R$ 77 milhões.
Ele explicou que o projeto levou um ano para ser preparado, com o envolvimento direto de 16 profissionais de seu escritório, para a retomada das características originais do complexo – fachada principal, vãos, telhados, adornos e cores “Temos mais de 4 mil fotos do imóvel e 40 plantas arquitetônicas”, disse.
Sem dinheiro
O Escolástica Rosa ocupa um terreno de 17 mil m², pertencente à Santa Casa. Durante anos, foi alugado pelo Governo do Estado para sediar unidades de ensino, inclusive técnicos. Foi desocupado em 2018, por problemas estruturais, e continua sem uso desde então.
O vice-provedor da Santa Casa, Carlos Teixeira Filho, argumentou que a entidade não tem os recursos necessários para o restauro. “O hospital trabalha com limites”, disse, destacando que o objetivo da entidade é oferecer atendimento de saúde. “60% de nosso atendimento é via SUS, e sabemos que a tabela de repasses não é reajustada há 20 anos”, completou.
Cacá Teixeira confirmou que os deputados Rosana Valle (federal) e Matheus Coimbra (estadual), ambos do PL, visitaram o prédio e defenderam a implantação de uma escola cívico-militar. Além deles, representantes da Polícia Militar também estiveram no local “para dar uma olhada” e analisar a viabilidade de instalar uma unidade de formação. “Estamos abertos a parcerias”, finalizou.
Mestre Marcio Santos, coordenador do projeto Capoeira para Todos, usou a tribuna da reunião para defender que o local seja um espaço multicultural, democrático, que respeite a cultura, o lazer e dê oportunidades profissionalizantes.
Representando o deputado federal Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), o jornalista Flávio Santana destacou a necessidade de haver uma união de forças entre os governos estadual e federal, a exemplo do que aconteceu com o acordo que resultou na viabilização do túnel Santos-Guarujá. “Se a gente tensionar e discutir para um lado ou para o outro, não consegue avançar. Precisamos de menos discursos e mais recursos”, afirmou.
Santana sugeriu que a Santa Casa crie uma comissão formada por parlamentares (vereadores, deputados estaduais e federais) e representantes da sociedade civil para discutir o tema.
O evento acabou com esquerdistas gritando “Sem anistia!”, numa referência às articulações para perdoar os participantes da tentativa de golpe de estado. Mas quem acabou penalizado mesmo foi o Escolástica, que continua sem solução.
Deixe um comentário