” Vale a pena assistir e se entregar a emoção, graças a bela, honesta e intimista abordagem de seu diretor, aliado a um fenomenal desempenho e química de Joaquin Phoenix e Woody Norman”.
“O que quer que você planeje fazer, nunca acontece. Coisas em que você nunca pensaria, acontecem. Então, você só tem que ir em frente. Sempre em frente, sempre em frente…”, conta Jesse enquanto entrevista a si próprio. Por muitas vezes, a inversão de papéis entre crianças e adultos acontece. Seja pelas respostas imediatas ou pelo olhar inocente, fica claro que, na infância, a maturidade está além da idade. Sempre Em Frente, novo longa do diretor Mike Mills, representa uma jornada demonstrativa da influência que uma jovem mente impõe sobre um espírito já cansado, inserindo o público em meio a uma rotina amorosa e ao mesmo tempo conflitante, entre um tio e um sobrinho que são praticamente obrigados a passar um tempo juntos e, há todo instante, descobrem novas formas de amar, simplesmente por viverem a beleza nas coisas mais simples.
Em Sempre em Frente, Johnny (Joaquin Phoenix) é um jornalista de rádio que possui um projeto jornalístico onde, atravessando os estados norte-americanos, ele segue entrevistando várias crianças sobre seus pensamentos a respeito do mundo e do futuro. Mas, a pedido de sua irmã, Johnny fica encarregado de cuidar de seu jovem sobrinho Jesse. Jesse traz para a vida do jornalista uma nova perspectiva e, conforme eles viajam pelo país, logo Johnny começa a olhar seu próprio mundo de outra forma. Exercitando sua sensibilidade em escutar verdadeiramente as crianças, para além de um trabalho, a partir da inocência e perspicácia transformadoras de Jesse, Johnny se vê capaz de levar a sério tudo aquilo que os menores podem relembrar e ensinar aos adultos, especialmente a arte de encarar a vida com simplicidade – habilidade e otimismo que se perdem no caminho para a maturidade.
O filme é dirigido por Mike Mills, diretor de Toda Forma de Amor e Mulheres do Século XX e, se encaixa perfeitamente em sua visão e no entendimento de sua carreira: personagens que buscam por reconciliação entre laços tido como perdidos ou nunca desenvolvidos. Este talvez seja o filme mais maduro e melancólico do diretor. O preto e branco adotado pelo diretor, além de ressaltar as emoções e os gestos com mais frieza, dialoga com o tortuoso caminho que seu protagonista tem na função de ser um ser humano mais “vivo”. E, apesar de construir um ritmo lento e com cenas que poderiam ser encurtadas, dando maior dinâmica a narrativa, Mike Mills realiza um filme que não possui reviravoltas ou acontecimentos mirabolantes. Na verdade, o diretor preza pelo mínimo e pela simplicidade, já que nestes artifícios, encontra justamente uma maneira tocante de desenvolver um homem introvertido e que está acostumado a apenas “ouvir”, para um choque causado pela presença de um ser que só quer carinho e atenção. Sabendo perfeitamente conduzir seu filme para que este não se torne apenas um dramalhão, o diretor consegue dosar a sensibilidade de sua história para que não se transforme em algo exagerado e óbvio.
Destaco a belíssima fotografia em preto e branco de Robbie Ryan, a boa edição do filme e o roteiro de Mills que se assemelha muito a um documentário, com diálogos que poderiam sair da boca de qualquer pessoa e com entrevistas reais de crianças que apenas trazem uma riqueza acima da média para o filme, deixando-o mais verdadeiro.
Em que pese a beleza de suas imagens e o simbolismo das entrevistas das crianças, Sempre Em Frente ganha potência quando foca na dinâmica e relacionamento de seu par de protagonistas. Joaquin Phoenix, que é considerado um dos maiores atores de sua geração, está formidável no papel passando uma incrível fragilidade e doçura ao seu personagem, sendo que interpretou anteriormente o Coringa, em um contraste que só um ator como ele conseguiria. Mas o grande destaque fica com o ator mirim Woody Norman, de apenas 11 anos. O ator transita entre fragilidade e resiliência com perfeição e momentos como a explosão de gritos em meio a um parque florestal dão ao filme uma grande carga dramática que impressiona pelo duelo de atuações entre os dois.
Sempre Em Frente não é para todos, possui problemas de ritmo e alguns momentos redundantes e que não fazem a história avançar. Mas, graças a bela, honesta e intimista abordagem de seu diretor, aliado a um fenomenal desempenho e química de Joaquin Phoenix e Woody Norman, funciona com sua sensibilidade valendo a pena assistir e se entregar à emoção.
Curiosidades: Foi apontado como um dos dez melhores filmes independentes do ano.
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