Saúde

Combate à desinformação e diagnóstico precoce são fundamentais para ajudar pessoas com autismo

01/04/2022
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A falta de conhecimento e, portanto, o preconceito, é o principal obstáculo para a interação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O principal desafio é fornecer informações, principalmente a pais e educadores, para que o diagnóstico seja feito o quanto antes.

“Quanto mais cedo se faz o diagnóstico e a intervenção, maior e melhor é o desenvolvimento da criança devido a capacidade de neuroplasticidade (capacidade do cérebro de se transformar, em resposta a estímulos)”, explica neuropediatra Marcone Oliveira, especialista em transtornos do neurodesenvolvimento.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. No Brasil, não há nenhum levantamento que indique o número de pessoas com TEA mas, se for considerada a estimativa da ONU, o país deve ter cerca de 2,1 milhões de autistas — e não se sabe exatamente quantos já estão diagnosticados.

Características do autismo
Não há idade certa para identificar o autismo. “Existe uma falsa ideia que de o diagnóstico deve ser feito depois dos três anos”, alerta o neuropediatra Marcone Oliveira.
O especialista destaca que muitos pais associam o autismo apenas à demora de uma criança começar a falar, mas o TEA pode ser identificado de outras maneiras.

Dificuldade na comunicação e interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, apego à rotina, dificuldade em lidar com situações novas, interesse por assuntos específicos e grande tendência ao isolamento social. O atraso na fala, a dificuldade no contato visual, ou não responder quando é chamado, são os primeiros sinais.

Causas e fatores de risco do TEA

Existem múltiplas causas para o autismo, entre elas os fatores genéticos, biológicos e os ambientais. Fatores de risco, ainda no pré-natal, podem resultar no surgimento do transtorno, desde a exposição de drogas, como a cocaína ou álcool em níveis elevados, a exposição de pesticidas e a associação com algumas doenças autoimunes. Há também os riscos da prematuridade, dos riscos ambientais, o contato com elementos químicos como o cádmium, níquel, mercúrio e outros, poluição do ar e a idade avançada dos pais.

Acompanhamento psicológico e apoio familiar impulsionam avanços

A psicóloga Natália Costa destaca que o autismo não é uma condição inalterável, sendo totalmente possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial, aumentando e incrementando seu repertório comportamental.

“Esse avanço vai depender da intervenção e dos estímulos que a pessoa receber e ele só se dará se a frequência, a intensidade e qualidade desses estímulos forem adequadas, além da faixa etária em que começarem a ser introduzidos. Quanto mais cedo, mais possibilidades de desenvolver”, salienta.

Após o diagnóstico, o tratamento com fonoaudiólogo é fundamental para auxiliar na questão da fala. “Os pais também podem ajudar no dia a dia descrevendo com detalhes tudo o que solicitar à criança, contando história, fazendo perguntas e iniciando diálogos”, complementa a fonoaudióloga Jackeline Pillon.

O acompanhamento psicológico também é fundamental. “Com o tratamento, é possível orientar ele e a família no desenvolvimento de habilidades sociais e auxiliar no ajuste emocional diante da rotina do dia a dia, melhorando, assim, o enfrentamento diante das frustrações, raiva, medos, impulsividade e outros sentimentos”, explica a psicóloga Emília de Azevedo.

Níveis do Transtorno do Espectro Autista

Leve (Grau 1) – As pessoas se mostram mais autônomas nos diversos contextos do dia a dia, alcançando independência e desenvoltura social com pouca intervenção profissional. Geralmente compreendem e cumprem regras e rotinas de casa com autonomia, vão driblando as dificuldades, estudam, trabalham e podem constituir família.

Moderado (Grau 2) – Os indivíduos demandam mais apoio para se socializar, pois tendem a apresentar pouca iniciativa para interagir.

Severo (Grau 3)- Os indivíduos apresentam dificuldades mais acentuadas e maiores comprometimentos, tendo iniciativa muito limitada e grande dificuldade para conversar e expressar o que desejam. Nesses casos, a comunicação é mínima e pode haver comprometimento da fala, precisando da ajuda de um mediador. É comum que o autismo venha acompanhado de deficiência intelectual e epilepsia.

Caminhada na Ponta da Praia

Acontece no próximo domingo (10/4), uma caminhada na Ponta da Praia para marcar o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, que este ano tem como tema “Lugar de autista é em todo lugar”.

Organizada pelo Grupo de Apoio às Mães dos Autistas da Baixada Santista (Gama) e o Grupo Inclusão,  a atividade começa às 14h, no monumento Amo Santos e seguirá até o Aquário.

“É importante participar de uma ação que reforce a importância da inclusão social. Mobilizações como estas informam a população, reduzindo a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam autismo”, explica Polyanna Oliveira, diretora do Instituto Almai, clínica focada no tratamento de pacientes com transtorno do espectro autista (TEA) e outros transtornos do neurodesenvolvimento.

Outra caminhada acontece em São Vicente promovida pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) da cidade, também no dia 10. A concentração acontece às 9h, na Praça Heróis de 32, no Gonzaguinha. Os participantes percorrerão diversas ruas até a Praça Tom Jobim, onde haverá tendas com informativos para conscientização, brinquedos, carrinhos de pipoca, algodão doce e outras atividades. A recomendação é estar vestido de azul, que é a cor que representa o autismo.