
Escrever um diário secreto pode desencadear interessantes processos internos. Para alguns será como escancarar uma janela e vislumbrar nuances nunca antes percebidas. Para os mais tímidos poderá ser uma arriscada ousadia. Fato é que, ao escrever sobre nossas impressões mais íntimas, enveredamos por caminhos ainda inexplorados e, bem por isso, não há como saber o que virá pelas folhas a fio.
Caderno Proibido se passa na Roma do pós-guerra (1950), quando toda a Europa literalmente buscava se reerguer dos escombros. Famílias inteiras passavam por provações difíceis em razão dos espólios legados pelo conflito bélico. É neste ambiente que a protagonista Valeria Cossati, mulher casada e com dois filhos, dominada por um impulso incompreensível, compra clandestinamente um caderno para fazê-lo de diário. A partir daí escreve quando e como pode, sempre ocultando a peça íntima da família. Quanto mais escreve, mais toma consciência de si e de seus vínculos. Sentimentos obscuros, culpa, frustrações e até mesmo uma incipiente paixão proibida começam a ganhar forma. Não sem razão, dirá Valeria que “quanto mais me conheço, mais me perco.”
Transformar o prosaico em altíssima literatura sempre foi um atributo dos grandes escritores. A italiana Alba, com todos os louros, realizou plenamente esse propósito em seu Caderno Proibido: Valeria é mais uma típica esposa e mãe de família; entretanto, a redução de suas memórias em texto mudará seu pacato infinito particular e deixará o leitor desassossegado do início ao fim.
Motivos para ler:
1- Alba de Céspedes (1911-1997), italiana de Roma, é considerada uma das maiores escritoras italianas do século XX, notabilizando-se pela exímia construção de personagens femininas. Sua obra vem sendo resgatada e traduzida mundo afora; mormente depois de Elena Ferrante, com sua sempre poderosa voz, declarar que Alba é uma de suas maiores influências;
2- A relação de Valeria com seu diário é ambígua. Ao mesmo tempo em que sente uma forte compulsão por escrever, há um sintoma grave de culpa por manter esse espaço de vida secreto de tudo e de todos. Tudo fica ainda mais perturbador à medida em que seus pensamentos ganham corpo e consciência. Em dado momento chegará a dizer que escrever no diário se assemelha a conversar com o diabo. Em seu devastador desfecho, Valeria pontifica sua conclusão final: “todas as mulheres escondem um caderno negro, um diário proibido”;
3– O mundo monótono e tranquilo de Valeria desmorona aos poucos. Escrevendo, a esposa e mãe põe em perspectiva o vazio de sua vida, com todos os espaços próprios subtraídos pelas convenções sociais. Todas as contradições e culpas são enfrentadas. Chega-se a um ponto de não retorno. Haverá coragem para prosseguir? Saberá o leitor na fulminante página final.
Comprar cigarro e nunca mais voltar. Parece algo bastante conhecido dos pais sacripantas, uma máxima mundial. Fiquei intrigado e instigado a ler essa história de um tempo remoto e acabar lembrando das inúmeras mães invisibilizadas pela nossa sociedade, atualmente algumas romperam o estigma, outras ainda mais estigmatizadas, abandonadas e seja mais o que for. Excelente coluna, ao revés de alguns calhordas globais, aqui sim vemos o progresso da humanidade, um abraço.
Grato pelo resumo, gerou curiosidade sobre a página final.
Obrigado pelo resumo, gerou curiosidade sobre a página final.
Obrigado , nos gerou curiosidade sobre a página final.
Leremos assim que possível.
De fato guardamos um caderno negro de nossas vidas, com muitas ou poucas páginas o qual em muitos momentos precisamos relê-lo para repensar as próximas páginas, de modo a não “rasgar” pela loucura dos problemas que vão se acumulando ao longo do tempo.