Rafael Moreira*
O que todo analista político agora está se perguntando agora é: para onde vai o capital político de Bolsonaro agora que ele está inelegível.
Afinal, um ex-candidato à presidência da República que atinge 58 milhões de votos e agora estará fora do páreo tem uma base eleitoral nada desprezível.
Tenho como hipótese que o campo político do bolsonarismo irá se dividir em duas partes, mas não de mesmo tamanho.
Creio que uma ala que será majoritária irá adotar a mesma retórica de Bolsonaro e dizer que se trata de uma “perseguição política do sistema”. Ainda que isso não faça qualquer sentido na prática (até porque Bolsonaro é a perfeita personificação do nosso sistema político, adotando práticas fisiológicas enquanto pingava de um partido do Centrão para outro sempre no chamado “baixo clero” da Câmara), é o que resta do seu discurso para não ter que assumir que cometeu inúmeros crimes eleitorais e contra a administração pública.
A estratégia aliás é a mesma usada pro Trump nos EUA que sempre usa a expressão “caça às bruxas” para se referir aos seus julgamentos, com a diferença de que lá não há uma Lei da Ficha Limpa como aqui.
Já uma ala minoritária do bolsonarismo, aquela que se apega mais ao discurso de combate à corrupção do que ao próprio Bolsonaro – e frisando bem aqui, discurso é diferente de prática – irá se colocar ao lado da Justiça, até para não se queimar frente ao próprio Poder Judiciário.
Resta agora saber qual será o rumo da base social do bolsonarismo e também da direita partidária brasileira pensando em 2026.
Mas isso já é tema para outro artigo.
*Rafael Moreira é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP)
