Sala de Ideias

Bastardos Inglórios

08/02/2022
Bastardos Inglórios | Jornal da Orla

Aldo Neto

Monark defendeu o nazismo sem nem ao menos saber que estava cometendo um crime.

A fala pró-nazista de Bruno Aiub, o Monark do Flow Podcast”, merece reflexão sobre a sociedade atual. Umberto Eco, uma vez cravou: “As redes sociais deram direito de falar a uma legião de idiotas que antes só falavam em um bar e eram rapidamente silenciados. Hoje, têm o mesmo direito de falar que um prêmio Nobel”. Eco tem razão. A culpa é das redes sociais ou da humanidade, que dá ferramentas para inaptos operarem e atribuem títulos que não são conquistados por meritocracia, mas sim “pela força da grana, que ergue e destrói coisas belas”, como eternizou Caetano Veloso em Sampa?

Qualquer um com alguns míseros mil reais consegue ter relevância na internet e passa a dar “informações” com “autoridade” adquirida no “mercado de seguidores”.

Quem nunca desmentiu fake news à sua mãe, que leu no celular e se “tá escrito é verdade”? As gerações passadas foram criadas dando valor inestimável a escrita. Afinal, para escrever era preciso ter cultura, vivência e inteligência. Agora, basta um celular “meia-boca” e qualquer burro com iniciativa e com pouco dinheiro gera “conteúdo” consumido por milhares.

Nelson Rodrigues alertou: “Os idiotas vão tomar conta do mundo. Não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”. A internet, que seria um instrumento único para levar inteligência, hoje propaga desinformação com claro interesse do sistema em manter o povo mais desunido, mais aculturado e perdendo mais tempo com bobagem.

Parabéns Gilmar Mendes, que cassou a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Agora é um celular na mão e uma ideia (nem sempre boa) na cabeça. Os compromissos sociais do Comunicador, com a verdade, ouvir os dois lados e não impor seu pensamento a ninguém não tem mais importância.

Monark defendeu o nazismo sem nem ao menos saber que estava cometendo um crime. E como isso ocorreu? Basta vermos quem é Bruno Aiub. Um menino que jogava videogame online com os amigos, ganhou milhares de seguidores e resolveu que ia fazer entrevistas com celebridades e com quem “pudesse pagar de alguma forma”, seja com curtidas, audiência, permutas… Que formação tem Monark, além a do seu PlayStation? Ele sabe quem é Joseph Goebels? Com certeza não, mas ele é fruto do que um dia esse senhor pensou ao manipular a Comunicação vendendo a ideia de raça ariana de seu “Reich”.

Monark merece o cancelamento? Longe de mim me tornar Aldo Raine, personagem interpretado por Brad Bitt em “Bastardos Inglórios”, e cravar com uma faca a suástica na testa do rapaz. Ele é tão vítima quanto o povo judeu. Precisa ser ensinado e saber que ter seguidores não o faz inteligente. Jesus começou com apenas 12 e construiu uma religião milenar disseminando o amor. Não comprando falsos adoradores com recursos do “criador”.

Existem vários Monarks na internet. Tem influencer de tudo. Tem um do Santos FC, cuja formação é “coveiro” (não é piada isso), que outro dia informou por três vezes em uma live que Pelé (sim o Rei Pelé), surgiu para o futebol no Bangu. Um crime à história do Rei.

Enquanto a sociedade não se educar para usar suas invenções fabulosas, veremos novos Monarks surgirem e serem reverenciados. Afinal, usamos as redes sociais como espelho. E citando novamente Caetano e Sampa: “Narciso acha feio o que não é espelho”. A quem interessa mostrar que Monark cometeu um crime inocentemente como a mídia tem feito? Todos precisamos de mais tolerância, pois na vida só temos duas certezas: A morte indelével e a do filósofo grego Sócrates: “Tudo sei que nada sei”!

Aldo Neto é jornalista e publicitário especialista em Redes Sociais e Marketing Político

 

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