
Com um olhar atento à ancestralidade e à pluralidade cultural do Brasil e da África do Sul, o artista Augustine Kawoh apresenta a exposição inédita ‘Ancestralidades II: Além de Linhas e Formas’. A mostra, que está em cartaz no Espaço Cultural da Pinacoteca Benedicto Calixto (Av. Bartholomeu de Gusmão, 15 – Boqueirão), traz, por meio da arte, narrativas visuais sobre a herança cultural africana no Brasil. O público pode conferir a mostra até o dia 27 de abril, de terça-feira a domingo, das 9 às 18 horas.
Diferente de sua exposição anterior, ‘Ancestralidades II’ mergulha nas lutas diárias dos nossos antepassados. “A palavra que usaria para definir as obras é: princípio. Estamos vivendo um momento de caos no mundo, com pessoas contra pessoas. A exposição nos provoca a refletir sobre quem somos”, afirma.
A mostra reúne 14 obras, entre pinturas figurativas e abstratas, colagens e objetos, com técnicas mistas. Cada peça é um reflexo da biografia de Kawoh, das histórias passadas por gerações, e das influências de genealogia, coletividade e crenças que moldam as sociedades.
Com destaque para quatro quadros inéditos, o artista revela que sua arte resgata a virtude brasileira de se reinventar constantemente. “Temos dois ancestrais que já partiram e dois que ainda estão entre nós. São figuras que lutaram e lutam contra o racismo e a injustiça”, explica.
Em relação às suas inspirações, Kawoh aponta que elas vêm principalmente de sua alma, do Espírito Santo e de sua fé. “O mundo de hoje, os conflitos externos e os que me tocam de forma pessoal, tudo isso me inspira. Também me relaciono com a obra de artistas africanos, que exploram a natureza, a espiritualidade e toda a beleza natural”, conta.
Natural da Nigéria, Kawoh chegou ao Brasil em 2013 e atualmente vive em São Vicente. “Vim para o Brasil em 2012, mais precisamente para o Rio de Janeiro, com o objetivo de fazer um curso de mergulho. Decidi então fazer outro curso e, dessa vez, fui para Santos, onde conheci minha esposa. Após retornar à Nigéria, tomei a decisão de voltar ao Brasil para construir nossa família aqui”, recorda. “Tenho o privilégio de ter chegado aqui como imigrante, com toda a documentação regularizada”.
O impacto da região em sua arte também é evidente. “Santos é uma cidade que apoia a cultura e a arte, o que me colocou em destaque na cena. Minhas obras estão expostas em galerias de arte em São Paulo. Sinto que escolhi o melhor lugar para iniciar minha carreira”, compartilha.
A exposição, que foi contemplada no 2º Concurso Arte Preta, promovido em 2024 pela Secretaria Municipal de Cultura de Santos (Secult), possui uma contrapartida social que se concretiza em dois encontros com o artista: um no Centro Cultural e Esportivo da Zona Noroeste e outro no Instituto Arte no Dique, na Vila Gilda. “Meu objetivo sempre foi devolver os sonhos aos jovens. As pessoas retratadas nas minhas obras levam consigo esperança e inspiração. Minha vida é uma transformação contínua, um símbolo de esperança. Em vez de esperar passivamente, podemos fazer a diferença”, afirma.
Sobre o que o público pode esperar da exposição, Kawoh quer que as pessoas enxerguem a história da arte em cada uma de suas obras. “Antigamente, as pessoas compravam arte pela beleza, para decorar. Mas minha arte tem um valor maior. Quero que o público se identifique com o que estou sentindo e viva essa experiência junto comigo”.
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