Colunas

A Voz Heroica do Gueto de Varsóvia

25/04/2025 Mendy Tal
A Voz Heroica do Gueto de Varsóvia | Jornal da Orla

A Revolta do Gueto de Varsóvia foi um dos eventos mais significativos e trágicos da história da Segunda Guerra Mundial. Foi uma demonstração de resistência heroica, quando os judeus decidiram lutar contra seus opressores em vez de serem forçados a morrer em um campo de concentração.
Deixou um legado notável, que reverbera até hoje.

Já em Janeiro de 1942, um dos primeiros relatos do plano de aniquilação judaica surgiu e atestava:

“Todas as estradas da Gestapo levam à morte.
Ser judeu é a morte!
Duvidosos!
Joguem fora todas as ilusões. Seus filhos, seus maridos e suas esposas não estão mais vivos.

Os campos de trabalho são campos de extermínio

Hitler pretende destruir todos os judeus da Europa.

Não vamos como ovelhas para o matadouro!
É verdade que somos fracos e indefesos, mas a resistência é a única resposta ao inimigo!
Irmãos! É melhor cair como lutadores livres do que viver pela graça dos assassinos.
Resistir!
Até o último suspiro”.

Este apelo afirmava também que os eventos de deportação não eram locais, mas que algumas cidades eram apenas o primeiro passo na implementação do plano “para matar todos os judeus da Europa”.

Este relato foi a primeira vez que uma fonte judaica, que não tinha nenhuma informação, seja da Alemanha ou de outras procedências, mencionou a aniquilação total do povo judeu.

Além disso, este foi o apelo inicial para convocar a revolta. Pela primeira vez, a demanda por resistência armada judaica foi declarada abertamente.

Entretanto, a liderança comunitária judaica na Polônia, e especialmente em Varsóvia, não aceitou a terrível previsão de que todos os judeus sob o domínio nazista estavam condenados.

Apenas os membros do movimento jovem Chalutz aceitaram isso inicialmente, enquanto outros membros da comunidade muito lentamente chegaram à compreensão da verdade sob o impacto das deportações.

Desde o início de 1942, houve tentativas no gueto de Varsóvia de estabelecer uma força de combate. A principal organização, a ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa, Organização Polonesa de Combate Judaica), sob o comando de um jovem de 23 anos, Mordechai Anielewicz, foi criada em julho de 1942, em meio às grandes deportações da cidade.

A verdade é que os judeus que foram isolados no gueto não tinham os meios, os vínculos e a experiência para construir uma força armada que estaria pronta para a batalha. Eles não possuíam armas, nem uma rede de inteligência ou ligações com aliados fora do país.

Além disso, eles não possuíam nenhum treinamento militar, especialmente nas táticas de guerrilha urbana.
No entanto, tinham as palavras de ordem do destemido jovem Anielewicz que expressou o significado desta batalha:

“O sonho da minha vida tornou-se realidade. A autodefesa no gueto terá sido uma realidade. A resistência armada judaica e a vingança são fatos. ”

Dentre todas as batalhas que um judeu enfrentou pela liberdade durante o Holocausto, a luta do Levante do Gueto de Varsóvia foi a mais desesperada.
Foi quando o desespero deu lugar à coragem.

Quando o inevitável destino deu lugar a uma reação de inconformidade.

Quando a certeza da morte deu lugar à determinação.

Quando a resignação deu lugar à insurgência.

Quando a indiferença do mundo deu lugar ao grito de revolta dos desamparados.

Contra toda razão, contra toda a dor, contra todo um exército, contra toda a maldade.

A possibilidade de sobrevivência quase inexistia, mas esta foi a luta da indignação.

Foi quando o povo judeu, ferido em sua pele e em sua alma, resolveu soltar seu brado de dor e de bravura para o mundo.

Um mundo que olhava para o outro lado, ignorando o Holocausto que acontecia debaixo de seus narizes.
Em 19 de Abril de 1943, então véspera de Pessach, o Levante foi aniquilado pelo incêndio do gueto.

A frase do intrépido herói do Gueto de Varsóvia é magistral:

“Declaramos guerra à Alemanha, a declaração de guerra mais atormentada que já foi feita. Organizamos a defesa do gueto, não para que o gueto possa defender-se, mas para que o mundo veja a nossa luta desesperada como uma advertência e uma crítica”.

Hoje, o espírito de luta e a coragem de Mordechai Anielewicz vive no espírito de Tsahal (Forças de Defesa de Israel) e no seio de cada habitante do Estado Judaico.

82 anos depois, em 19 de abril de 2025, temos o dever e o direito de homenagear a bravura destes heroicos lutadores.