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A porta entreaberta da mente

26/04/2025 Vanessa Martins
A porta entreaberta da mente | Jornal da Orla

Um belo dia dona Marlene, uma mulher de 67 anos, decidiu que enfrentaria seus fantasmas. Eles vinham disfarçados de insônia, de angústia no peito e de um medo difuso que a impedia de sair sozinha. Depois de tantos anos confiando em rezas e receitas caseiras, resolveu experimentar algo que sua neta lhe indicou: hipnoterapia.

Marcou a sessão para o dia seguinte e, sem saber exatamente o que esperar, seguiu para o consultório do hipnoterapeuta. O ambiente era silencioso, acolhedor, quase como o abraço que costumava dar nos filhos quando ainda eram pequenos. Sentou-se na poltrona e respirou fundo.

Hipnose, para ela, era coisa de televisão, de gente que dormia profundamente no palco. Mas o hipnoterapeuta Irapuan Ruas logo desfaz esse mito. Explicou que a hipnoterapia não era mágica nem manipulação — era ciência e escuta. Era uma ponte entre a razão e o inconsciente, uma forma de entrar em contato com memórias escondidas, emoções trancadas a sete chaves.

“É como se a gente abrisse uma porta que a própria mente manteve entreaberta por anos, esperando alguém ter coragem de empurrar”, explicou ele. E foi isso que fizeram juntos.

Durante as sessões, dona Marlene revisitava lembranças de infância, reconhecia padrões que repetia sem saber e, aos poucos, ia entendendo de onde vinham seus medos. “A hipnoterapia ajuda na cura de vários problemas, como depressão, ansiedade, traz mais controle de si mesmo”, diz Irapuan.

Na quinta sessão, Marlene entrou diferente. Estava mais leve, com um batom discreto e os cabelos presos com uma presilha nova. Contou que havia ido sozinha ao mercado pela primeira vez em meses. Sentia-se mais dona de si, menos refém dos pensamentos que antes a aprisionavam.

Foi nesse ponto que ela percebeu que o verdadeiro poder da hipnoterapia não era fazer esquecer traumas, mas torná-los compreensíveis — ressignificá-los. Era como reorganizar os livros empoeirados de uma estante: alguns voltavam ao lugar, outros eram doados, e muitos simplesmente deixavam de pesar.

A experiência de Marlene não é única. Todos os dias, pessoas de diferentes idades e histórias chegam à hipnoterapia buscando alívio, clareza, ou apenas um pouco de silêncio no meio do caos. E muitas descobrem que aquilo que as impede de viver está escondido não no mundo, mas dentro de si — camuflado na mente, esperando ser notado.

“Na hipnoterapia, o terapeuta não impõe, apenas guia. Quem faz o trabalho de cura é o próprio paciente”, acrescenta Irapuan. E é verdade. A transformação não vem de fora, mas de dentro — e o terapeuta apenas aponta a luz para que o caminho se revele.

Hoje, dona Marlene caminha na praia toda manhã. Já não carrega a mochila invisível de angústias que a acompanhava. Fala com orgulho da terapia e recomenda: “É como conversar com a alma, só que com a ajuda de alguém que entende a linguagem dela.”

No final, talvez seja isso que a hipnoterapia ofereça: não um milagre, mas um espelho. Um olhar interno que nos mostra quem somos sem as camadas do medo, da culpa ou da dor. E isso, por si só, já é revolucionário.

A mente é uma casa cheia de portas. A hipnoterapia é a chave.