
O professor estava no portão da Universidade quando foi abordado por um dos seus alunos do último ano da Faculdade de Medicina.
De forma repentina, o jovem lhe disse:
-Professor, minha formatura será no dia 18 de dezembro. Quero que o senhor saiba de uma coisa.
-Sempre gostei da forma como conduz com humanidade o seu ensino. Por isso, eu quero lhe confidenciar um projeto que acalento desde algum tempo.
-Sabe, quando eu nasci, fui abandonado pelos meus pais. Fui criado pelos meus tios.
-Nunca perdoei minha mãe e meu pai por me rejeitarem. Então, no dia da minha formatura, pretendo dar um presente para eles: vou me matar.
-Vou deixar um bilhete muito bem escrito, culpando-os pelo meu gesto. Quero que eles sofram, que sintam remorso pelo que fizeram.
O professor tremeu. Esqueceu o compromisso que tinha, esqueceu de quem o esperava em algum lugar para o almoço.
Ali estava um jovem que iria destruir a sua vida, pensando em uma vingança. Dr. Laércio o chamou para um lugar mais reservado.
E a primeira pergunta que lhe dirigiu foi:
-Meu filho, você diz que planejou se matar no dia da sua formatura, para castigar os seus pais porque eles o abandonaram.
Deu-se uma pequena pausa, e o Dr. Laércio continuou:
-Mas, você pensou nos seus tios? Pensou em como despedaçará os seus corações, eles que o acolheram desde o nascimento, que lhe deram carinho, que lhe ofereceram o regaço de pai e mãe?
-Imaginou, por um minuto que seja, a dor que estraçalhará as suas vidas? Eles investiram amor em você, eles se sacrificaram para que você pudesse cursar a Faculdade.
-Pensou em como eles devem estar aguardando, ansiosos, para assistirem a sua colação de grau? E você pensa em lhes oferecer o seu cadáver?
À medida que o professor falava, o rapaz foi se encostando na parede da sala e, devagarinho, foi arqueando as pernas, até se sentar no chão.
Lágrimas lhe corriam pela face. Soluços lhe sacudiam o corpo.
A conversa se estendeu e, quando foi concluída, o formando desistira da ideia suicida.
[com base em fato real e também na Redação do Momento Espírita]
Assim acontece, muitas vezes, com algumas almas infelizes. Arquitetam a própria morte por vingança, porque desejam ferir alguém.
De outras vezes, porque sentem tanta dor que pensam que destruindo a vida, acabarão com a dor.
Enfim, muitos motivos existem para a fuga enganosa pelo suicídio.
Porém, de modo geral, aquele que isso planeja não pensa no coração de mãe que se despedaçará ao ter o corpo do filho morto nos braços.
No coração do pai que sonhou tanta felicidade para aquele filho e agora lhe acompanha o corpo ao cemitério.
Irmãos, primos, tios, avós, namorado(a), amigos, colegas, todos são envolvidos na tragédia. E, para alguns deles, o abalo será tão grande que demorará muito para se restabelecerem psiquicamente.
Bom, graças a um professor que se dispôs a ouvir e a conversar, passados dez anos, o reencontro de ambos foi emocionante.
Um era o velho mestre, à beira da aposentadoria, o outro um cirurgião cheio de planos, vigor e alegria de viver.
O abraço de ambos foi longo e, com a voz embargada, o ainda jovem segredou ao ouvido do seu salvador: -Obrigado, professor, pela minha vida.
-Obrigado, por me recordar da gratidão que eu devia e deverei sempre aos que me acolheram como filho.
PAZ, SAÚDE E PROSPERIDADE
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