Digital Jazz

Até breve Aldir Blanc 

09/05/2020
Até breve Aldir Blanc  | Jornal da Orla

Esta semana a MPB entristeceu e perdeu um pouco do seu colorido com a partida do querido e genial Aldir Blanc, grande letrista e um dos compositores mais importantes dos nossos tempos, com mais de 600 composições.

Ele conseguia retratar cenas do cotidiano com muita clareza e inspiração. Falava de amor, fazia sambas incríveis e também era um escritor de crônicas muito inspirado. 

Carioca da gema, nascido no Estácio, tinha música nas veias e com certeza deixa um legado maravilhoso para a nossa geração e também para as futuras gerações que nos sucederão.

Aldir Blanc era formado em Medicina com especialização em Psiquiatria e para sorte de todos nós, no início dos anos 70, abandonou a Medicina e escolheu a música para seguir sua vida. Com certeza, agradecemos que ele tenha tomado esta importante decisão. 

Meu prezado amigo carioca e também compositor Fred Falcão, um dos primeiros parceiros de Aldir Blanc, me confidenciou que foi ele que sugeriu que ele assinasse suas composições apenas como Aldir Blanc e não mais Aldir Blanc Mendes, como fazia no início da sua carreira. Ele aceitou de pronto.

Bastante recluso, Aldir Blanc escreveu versos muito inspirados, que poderiam estar em qualquer livro de poesias. Com as palavras, conseguiu atingir em cheio os nossos corações, dos seus parceiros e intérpretes.
As minhas preferidas: “O Bêbado e o Equilibrista”, “Bala com Bala”, “Dois para lá, Dois para cá”, “Incompatibilidade de Gênios”, parcerias com o também genial violonista e cantor João Bosco, que foram eternizadas na voz de Elis Regina, que considerava Aldir Blanc seu letrista predileto.

E mais “Saudades do Brasil” com Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro, “Resposta ao Tempo” e “50 anos” com Cristovão Bastos, “Catavento e Girassol” com Guinga, “Querelas do Brasil” com Maurício Tapajós e “Colombina” com Fred Falcão, que foi gravada recentemente pelas vozes afinadíssimas do Quarteto do Rio.
Aldir Blanc sabiamente profetizou: “O Brazil não conhece o Brasil, o Brasil nunca foi ao Brazil”.

Nada mais atual e verdadeiro para ilustrar o período de intensas transformações que vivemos nos dias de hoje.

Tudo vai passar! A música de Aldir Blanc vai ficar! Para Sempre! Até breve Aldir Blanc!
     
                       

        

Aldir Blanc – “50 Anos”

 

Este é um dos meus discos favoritos da obra musical de Aldir Blanc, lançado em 1996 pelo Selo Alma Produções, marcando as comemorações dos seus 50 anos.

Ganhei este disco de presente do meu querido amigo e também compositor Ademir Gargiulo Soares alguns anos atrás.

O disco teve uma produção primorosa assinada por Marco Aurélio e Tavito Carvalho, com arranjos muito elegantes assinados por Antonio Adolfo, Cristovão Bastos, Gilson Peranzzetta e Cláudio Jorge, também contando com a participação de uma afinadíssima orquestra de cordas.

Logo na primeira faixa nos deparamos com um emocionante e histórico depoimento do genial Dorival Caymmi falando sobre Aldir Blanc.

O time de convidados também merece nosso destaque: Antonio Adolfo, Carol Saboya, Edu Lobo, Danilo Caymmi, Nana Caymmi, Emílio Santiago num medley de fazer chorar, Ed Motta, Ivan Lins, Gilson Peranzzetta, Leila Pinheiro, Fátima Guedes, Paulinho da Viola, MPB 4 entre outros. Uma verdadeira seleção.

O disco misturou no repertório, faixas inéditas e regravações muito inspiradas de sucessos do compositor e até ele, de forma rara e pouco usual, se arriscou como cantor em 6 das 20 faixas do disco, dando um toque pessoal ao trabalho.

Um disco antológico e essencial.